sexta-feira, dezembro 22, 2006

"I got a bone to pick and a few to brake"

Um impulso de jazz levou-me a relembrar o que não quero esquecer: Refused. Esta banda continuou e expandiu o trabalho começado por The Nation Of Ulysses (TNOU), explorando muito mais as possibilidades do punk que os americanos.

The Shape of Punk to Come dos Refused deixou muita gente imensamente impressionada com o trabalho deles e com as próprias possiblidades que o punk/hardcore tinha e que ninguém havia experimentado até então (fora os TNOU). Esta obra-prima dos meninos suecos mistura o hardcore com o jazz, com o electrónico, com o hard-rock e talvez com um cheirinho de metal - nada de muito pesado na realidade, ou que quem tenha ouvido sensível considere impossível de ouvir; muito pelo contrário, não deixaria de ficar impressionado. Dentro da poluição que é o punk-hardcore, os meninos suecos fizeram no seu estilo musical, nas letras e na sonoridade, uma limpeza e uma clarificação. A imundidade mantém-se, mas com uma complexidade e uma pureza de embelezar tudo.

Imensas bandas conhecidas chegaram mesmo a tentar covers dos singles do album, principalmente de "New Noise", uma crítica à actualidade musical muito ao estilo original do punk. Pessoalmente acho que nunca esses covers atingiram a excelência dos originais, talvez pela interpretação dos vocalistas que acabam por perder aquela fúria pura de Dennis Lyxzen.

No entanto, as outras obras da banda, mesmo sendo muito interessantes dentro do punk, não me chamaram tanto a atenção e excluo a hipótese de serem tão geniais quanto The Shape of Punk to Come.
Uma obra que nunca vou esquecer, sem dúvida...

sábado, dezembro 09, 2006

de dentro do baú... o Prog-Rock

Desde há uns meses que me tenho apercebido que o novo não é uma simples criação, por muito original que se torne. Toda a música nova – no verdadeiro sentido do termo, ou seja, música original, ainda estranha aos ouvidos por ser uma sonoridade desconhecida – resulta de uma qualquer evolução.

Considero importante poder compreender este processo evolutivo para conseguir entender melhor a música, o estilo, a sonoridade em questão.
Pessoalmente, considero o Prog-Rock uma das sonoridades mais complexas da música contemporânea, parecendo, por vezes quase incoerente ou mesmo dissonante. A realidade é que funciona tudo de uma forma incrivelmente harmoniosa e é isso que delineia o fosso entre música excessivamente técnica e rock progressivo.

De tudo o que retirei do “baú” onde tinha as coisinhas velhas, conclui que os primórdios do rock progressivo, os primeiros passos neste estilo, começaram com os próprios Beatles, conhecidos como os pais do rock (algo que não vou discutir agora; talvez num artigo posterior venha a abordar essa situação, pois admito que é uma forma muito pessoal de ver as coisas), no White Álbum, um disco incrivelmente experimentalista. A forma como tentam enquadrar os instrumentos, quebrando as repetições e as construções básicas das músicas, revolucionam toda a visão que se pode ter do rock, ou mesmo da música (uma banda vanguardista e por isso ficou conhecida, pelas suas rupturas). O álbum ficou conhecido pelo caos introspectivo em que se apresenta. É uma obra em que a banda explora o melhor de cada membro, tanto como músico, assim como de compositor. É uma verdadeira reflexão sobre o seu rock e sobre aquilo que conseguiam fazer. Ficou aberta a porta de muitas das inúmeras possibilidades do rock, que até então não haviam sido procuradas.
Claro que não posso esquecer os pais do psicadélico, do rock musicalmente “estranho”, Pink Floyd, outra das bandas que proporcionou o Progressivo, mas que, uma vez mais e como muitas outras bandas, foi influenciada pelos próprios Beatles.

Surgem, então, as grandes bandas do Prog-Rock ou do Art-Rock, sinónimos que se viriam a fundir, em termos de conceito, com a “morte” do próprio estilo, assim que o Punk aparece e arrebata todo o público. Genesis, nos finais dos anos 60, assim como Van Der Graaf Generator, Yes, King Crimson, Jethro Tull, Soft Machine, Camel, entre muitos outros, começam a explorar o rock progressivo; músicos de clássica a procurarem os seus caminhos pelo rock, sempre com o psicadélico em mente, compõem as obras musicais mais geniais do século XX – das quais gosto de realçar The Lamb Lies Down On Broadway dos Génesis, um álbum conceptual baseado numa história escrita pelo vocalista da banda, Peter Gabriel.
Os anos 70, apogeu musical dos Rock Progressivo, foram também o apogeu das bandas que surgiram nos anos 60 e que procuravam mais que um rock simplista. Guitarristas como Robert Fripp e teclistas, senhores do Moog, como Tony Banks ou Peter Hamil, músicos por excelência, assumem toda uma perfeição técnica num estilo incontornável e sempre instável, do qual não se conseguia prever nada, mas que não parava de surpreender pela sua complexidade e genialidade.
E precisamente nos anos 70 surge a banda que viria a ser o máximo do Prog-Rock: Gentle Giant (dos quais virei a falar mais tarde, num artigo só para eles, que não merecem menos). A banda que realmente experimentou tudo o que havia a experimentar, aplicando todos os conhecimentos e mesmo os instrumentos que traziam da sua aprendizagem clássica. Nunca ninguém atingiu tamanha incoerência em música tão harmoniosa.

O Progressivo aparece, então, com a investida dos músicos clássicos, de violinistas, de pianistas, no mundo novo que era o Rock. Quebrando a simplicidade e toda a forma de composição a que o estilo tinha habituado o público, o movimento progressivo tanto cresceu como não tardou a acabar. Aplicando os seus conhecimentos da música clássica, os novos músicos de rock tornaram o rock imprevisível e uma onda novamente nova (passo a redundância), cheia de crescendos e de mudanças súbitas de melodia nada regulares ou compreensíveis até então.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

The Rogers Sisters

Numa das minhas procuras normais de algo novo para ouvir, deparei-me com The Rogers Sisters, um trio nova-iorquino composto pelas irmãs Rogers - Jennifer na guitarra e Laura na bateria - e pelo baixista Miyuki Furtado.

A banda é inconstante no seu estilo, mas constante na qualidade da música. Há quando não sei se estou a ouvir B52s ou The Kills - nesta última situação de uma forma mais consistente e menos repetitiva. As vocalizações, feitas por toda a banda, dão uma sonoridade muito revival à música, relembrando os belos anos 80.

Com dois trabalhos já no mercado ( Purely Evil em 2002 e Three Fingers em 2004), voltam à carga com The Invisible Deck, editado em março. O single "Never Learn to Cry" é um exemplo muito bom de tudo o que a banda é, sendo os álbuns todos muito equilibrados.

Como é uma descoberta recente, não vou falar demais, não vá dizer nada que seja menos correcto, mas aconselho a que ouçam. Deixo-vos o Myspace para explorarem como bem vos apetecer.

terça-feira, novembro 21, 2006

Olhos de Mongol

E finalmente consegui o tão esperado álbum! “Olhos de Mongol”, dos Linda Martini, vai fazer um mês que já saiu. Estava-me atravessado ainda não ter acesso a nada (com excepção do primeiro single, que está no Myspace) do último trabalho deste rapazes e rapariga que aprendi a respeitar.

A “Cronógrafo”, o primeiro single de “Olhos de Mongol”, pareceu-me muito desenquadrado daquilo que se conhecia do EP e, admito, custou-me a entrar. Mas, bem ouvidas as coisas, mostra a maturidade que a banda atingiu nos últimos tempos. Linda Martini escreveram o próprio destino e largaram o Post-Rock pura e imaculadamente fiel às origens.
O Post-Rock deles é, agora, dotado de uma sonoridade muito própria. O que conseguiram extrair das músicas experimentalistas foi o próprio experimentalismo e exploração das músicas. Mas sente-se aquilo que me parece ser uma recuperação das raízes, um peso e balanço algo característico. Há coisas que não se esquecem, mas os Linda Martini lembraram-se da melhor forma.

O álbum está, no mínimo, muitíssimo bem conseguido. O equilíbrio entre as músicas, o alinhamento... está o que me parece ser evoluído – que perfeito é um conceito discutível. Não há um único momento de quebra ao longo dos mais de 40 minutos de música; há, sim, as típicas ambiências que só são possíveis de conseguir de certa maneira, ou seja, com um ritmo menos acelerado – apesar dos contratempos da bateria – mas que não conduzem a um marasmo, muito pelo contrário, tornam a sonoridade mais envolvente.

"Olhos de Mongol" vale a pena, muito sinceramente.

sábado, novembro 11, 2006

Mindweep

Esta banda foi formada em finais de 2004 e todos os seus membros são provenientes da grande cidade de Coimbra.
Conhecendo-os a todos pessoalmente, venho dar um jeitinho a estes quatro rapazes que recentemente lançaram uma maquete, com quatro faixas originais gravadas com Márcio Silva. A música compreende-se como rock alternativo com grandes influências de Muse, mas cada um pode desenvolver a sua opinião fazendo uma pequena visita ao Myspace da banda e ouvir a quatro faixas presentes na maquete. A banda é formada por Ricardo Ferreira (baixo, teclas e 2ª voz), Sérgio brito (bateria/percursão), Rui Lopes "buga" (guitarras, teclas e sintetizador), Rui Amaral "zé fumaça" (voz). Pessoalmente, espero grandes coisas desta banda, pois venho a acompanhar este projecto praticamente desde do início. Tenho um grande respeito por todos eles como músicos e desejo-lhes a melhor das sortes na aventura que iram seguir no mundo da indústria musical.

"the mind weeps for evolution!!"

Espero que gostem

terça-feira, novembro 07, 2006

Tool + Mastodon @ Pavilhão Atlântico

Antes de adiantar seja o que for sobre o concerto, deixo uma forte critica à organização do evento que fez mais de metade do público perder grande parte da actuação de Mastodon ou mesmo a totalidade desta. Para além da abertura das portas ter sido imensamente tardia, as filas, por causa das excessivas revistas realizadas pela segurança (com uma muito grande possibilidade de ter sido exigida pelos Tool), não avançavam, pura e simplesmente.

Tentativa de mostrar as intermináveis filas...


Como já referi, o concerto de Mastodon foi “boicotado”, mas eu tive a sorte de apanhar as duas ultimas músicas. Só fiquei ainda mais frustrado por não ter visto o concerto no seu todo. Mastodon – cujos álbuns são obras que eu respeito imensamente pelo trabalho técnico da banda, quer individualmente, quer em conjunto – surpreendeu-me, pois o concerto mostrou-se extremamente vivo. Algo que não era de esperar, tendo em conta que as músicas são extremamente técnicas e muito trabalhadas, podia tornar o concerto bastante enfadonho e tal não aconteceu. Muito pelo contrário, não só a banda me pareceu muito enérgica e animada, como as músicas bastante melhores ao vivo do que eu esperava. O som estava imensamente bom – outra surpresa – , som que nem estava preparado para eles e que tinha como principal obstáculo o espaço (tão conhecido pela má acústica) e a própria sonoridade da banda, cheia de distorções.

Depois vem a eterna espera que precede cada concerto de Tool. Por hábito, culpa-se sempre Maynard James Keenan, o vocalista da banda, que é conhecido pelo seu feitio de perfeita rock-star, mas toda a banda é extremamente perfeccionista e isso reflecte-se claramente nos concertos, todos muito bem programados. Cada música, cada minuto, cada segundo todo sincronizado com os próprios contratempos, tão característicos na musicalidade dos missionários do prog-metal actual. Por regra, nada falha num concerto de Tool. Este não foi excepção.

Entram Danny Carey, o senhor baterista, Adam Jones, o senhor guitarrista, e Justin Chancellor, o senhor baixista. Maynard demorou-se na entrada.
Começa Stinkfist. Toda a audiência sabia as letras, e menos não seria de esperar. O pavilhão Atlântico, bastante cheio, mas não completamente, fazia-se ouvir, quase se sobrepondo aos próprios instrumentos. Um início mais brutal ou violento era impossível; foi um início perfeito para o concerto que se avizinhava.

Seguiu-se The Pot, do novo álbum, 10.000 Days, precedida de um alegre “Goodnight Portugal” do vocalista, que, mais uma vez foi entoada em uníssono pela audiência. Maynard ajudou ao espectáculo permitindo o sing-along e criando um grande compasso de espera até que se retomasse a música, criando um grande ímpeto. Mais uma vez, há que referir a grande propriedade de tudo estar programado e ensaiado ao milímetro num concerto de Tool: o baixo entrou, em grande força (e com um grande ovação), precisamente ao mesmo tempo que a voz – e não se esperava menos que isso.
Depois, veio Forty Six & 2, outro dos grandes clássicos da banda. O solo de bateria de Danny Carey, que no álbum soa incrivelmente genial, ao vivo soa ainda melhor, porque realmente o senhor mostra que sabe tocar, e muito. Contratempo seguido de contratempo em contratempo com o anterior contratempo… é a única forma que encontro de descrever o que acontece naqueles últimos 2 estonteantes minutos de música.

Jambi veio fazer perdurar todo aquele sentimento até a um interlúdio repleto de ambiências negras: era a vez de Schism, muitíssimo aclamada por toda a gente. Com um baixo no mínimo característico e em grande destaque.
Entretanto, a setlist mostrou um pequeno boicote, e o concerto perdeu bastante todo o poder que tinha sido cultivado pela banda até então, caindo mais na técnica, com a banda a abusar dos efeitos (todos excelentes, sem qualquer dúvida) dos seus instrumentos. Mas há um merecido destaque para os efeitos de luzes, que estavam, no mínimo, muito bons e sempre sincronizados com as características imagens que passam nos ecrãs do palco. Desde lazers, aos típicos holofotes, ainda com projectores ascendentes e descendentes e mesmo a imagem do 10.000 Days bem acima dos ecrãs… tudo muito bem estudado.

Fizeram, então, a pausa mais interessante a que já assisti: uma pequena reunião de grupo no centro do palco, em que picaram um bom bocado os fãs, fazendo-os cantar, levantar isqueiros e telemóveis…
Lateralus marcou o retomar do concerto, seguida de um estranho discurso sobre uma tarde de sol, em pleno o verão, em que Maynard mostrou a boa disposição com que estava.
Vicarious e Aenima acabaram, então, o concerto de em grande força, com ovações incessáveis e ensurdecedoras. O público pedia o encore, mas os Tool já deixaram de os fazer.
O concerto foi bastante longo para as 10 músicas tocadas, o normal para um concerto de Tool. Apesar da produção do concerto estar mais trabalhada, no SBSR a banda teve uma setlist ligeiramente diferente e que na altura me entrou bastante melhor; mas festival é festival, não é sequer uma boa medida de comparação.

domingo, novembro 05, 2006

Muse\ Hopes and Expectations Black holes and revelations

Matthew Bellamy(Vocalista\Guitarrista) , Dominic Howard(Bateria) e Christopher Wolstenholme(baixo) decidiram fazer uma pausa na sua tour de Espanha, e dirigiram-se à nossa capital, para deixar a marca do seu novo álbum, Black Holes and Revelantions, no nosso pequeno país, 2 anos após a sua última visita a Portugal, no festival Super Bock Super Rock.

O concerto foi realizado no renovado Campo Pequeno, que demonstrou ser um palco perfeito para qualquer tipo de espectáculo musical. Para abrir o apetite dos milhares de fãs, a banda britânica convidou os espanhóis Poet in Process, que demonstraram grande à vontade em palco. Uma Senhora vocalista, Lynne M. Proctor, a liderar, com uma energia estupenda que levou a plateia a aplaudir efusivamente a promissora banda da Catalunha.

Mas o momento pelo qual, todos esperavam chegou apenas meia hora depois, com o véu a cair e Bellamy e companhia a aparecer dando início ao espectáculo com a primeira faixa do novo álbum, “Take a Bow” – o britânico não deixou de fazer o seu papel de entertainer e fez uma vénia a todos os presentes, que deixou o publico em êxtase, todo acompanhado por arranjos tecnológicos e pirotécnicos sensacionais, que já são imagens de marca da banda.
Os Muse revelaram logo de seguida que não vinham a Portugal apenas para promover o seu mais recente trabalho, com o arranque do baixo de “Hysteria”. O concerto prosseguiu ao mais alto nível, com Bellamy a levar a plateia ao rubro com solos de guitarras pouco explorados, mas que deixaria qualquer fã da banda em delírio, e com músicas como “Stockholm Syndrome”, “Muscle Museam”, “Plug in Baby”, “Citizen Erased”, “Bliss”, fazendo sempre intervalos para se dirigir ao piano, a fim de fazer os tão esperados solos de “New Born”, “Apocalypse Please”, "Butterflies and Hurricanes”.

Finalizando, o concerto soube a pouco: palco pequeno, solos pouco aproveitados (tirando a um pequena intro com roadhouse blues dos The Doors), apenas menos de duas horas de concerto, mas os Muse provaram ser uma banda muito profissional, marcando presença somente com o objectivo de garantir que o público tivesse uma noite em grande com a sua música, e os Muse conseguem-no com uma facilidade louvável.

E Bellamy… Matt Bellamy simplesmente não desafina!

sexta-feira, novembro 03, 2006

Ao vivo a partir de uma galáxia longínqua…


Lisboa acolheu quinta-feira 26 de Outubro, os britânicos Muse num concerto de apresentação do seu novo álbum intitulado “Black Holes And Revelations”. Após Ilha do Ermal, Aula Magna, Hardclub, Festival Sudoeste e Super Bock Super Bock, os Muse apresentaram-se pela 6ª vez em terras lusas, protagonizando o primeiro grande concerto no Campo Pequeno, após a recente restauração e remodelação desta praça de touros. Com lotação esgotada, o recinto acolheu cerca de 6900 pessoas, distribuídos pela plateia (arena), bancadas e galerias.

Poet In Process

A abertura do concerto ficou a cargo dos espanhóis Poet In Process, oriundos de Barcelona, cuja escolha se perpetuou para a abertura de outros 5 concertos da banda inglesa na actual tournée. O quarteto espanhol ficou desde o início bastante limitado, devido ao escasso palco a que teve direito, uma vez que o restante palco estava interdito por um pano negro, encobrindo o palco que os Muse tinham preparado para este concerto. Desde cedo que os Poet In Process não foram muito bem recebidos pelo público português, que estava impaciente para ver o concerto que o trio britânico tinha preparado. Apesar do público difícil, os Poet In Process conseguiram tocar um concerto mais ou menos coeso, não obstante a reacção que estavam a obter dos espectadores. Isto deveu-se em grande parte à energia e sensualidade em palco da vocalista Lynne Martí, que se destacava na banda pelo seu carisma. Quanto à qualidade dos temas apresentados, Poet In Process revelaram-se fraquíssimos, especialmente na clara falta de talento e entusiasmo de todos os membros da banda, à excepção da vocalista. O público viu os hispânicos partir da mesma forma que os viu a entrar: com indiferença e desdém.

Muse

Com mais um álbum na bagagem, os rapazes de Teignmouth apareciam desta vez em Portugal com uma panóplia de temas mais alargada, mas, estando incluído na tournée do novo álbum, o concerto iria incidir mais nos temas do novo álbum.
Após a partida dos Poet In Process, passaram-se cerca de trinta minutos, que se revelaram exasperantes para os fãs mais ávidos. Tudo o que se passava por detrás do pano negro era um mistério para aqueles que aguardavam impacientemente o aparecimento da banda inglesa. Assim que o pano negro desceu, a curiosidade e estupefacção estampou-se em todos os rostos presentes no Campo Pequeno. O palco arrojado levou algum tempo a ser totalmente assimilado pelo público, que o perscrutava de uma ponta à outra, à procura de alguma coisa que tivesse escapado até ao olho mais atento. No background, um painel de luzes gigante. À esquerda, uma pirâmide octogonal invertida também ela revestida por um painel de luzes.
Abrindo com um tema que em 2004 era apenas um interlúdio de piano usado em concertos (Take A Bow), os Muse estavam incompletos: pisavam o palco apenas o frontman Matt Bellamy e o baixista Chris Wolstenholme, que eram os únicos membros necessários para tocar o início do tema de abertura. No entanto, segundos antes da música atingir o clímax, Bellamy, iluminado por múltiplos holofotes, saudou o público com o seu tradicional braço estendido para o infinito e a estranha pirâmide elevou-se no ar, ficando à mostra o que se encontrava escondido no seu interior: o baterista Dominic Howard, que acompanhou a banda a partir daqui, fazendo deste um dos pontos altos do concerto. A partir deste momento, o concerto fluiu de uma forma natural e harmoniosa, encaixando todas as músicas da melhor forma, intercalando, por vezes, com fantásticos improvisos e riffs por parte do talentoso Matthew Bellamy. Exemplo disto foi quando Bellamy brindou o povo português com excelentes performances no sintetizador inserido na sua guitarra.

O trio britânico não fugiu à temática do concerto e fez o que se esperava: uma promoção do seu novo álbum e, portanto, nove dos dezanove temas tocados fazem parte do último trabalho da banda. A actuação dos Muse decorreu sem qualquer tipo de falhas, mostrando o profissionalismo e talento de todos os membros da banda. A comunicação verbal com o público foi escassa, tendo sido Dominic quem falou mais com os fãs, mas Bellamy foi aquele que, com saudações e outros tipos de gestos simbólicos, estabeleceu a comunicação perfeita com o público.

Destacaram-se os singles do novo álbum, Supermassive Black Hole e Starlight, ao som dos quais a plateia enlouqueceu, e também os temas Plug In Baby, Hysteria, Butterflies & Hurricanes, New Born, Time Is Running Out, entoado pela multidão ensurdecedora sobrepondo-se à voz de Bellamy, Muscle Museum (única música do álbum Showbiz tocada no concerto) e Forced In, tocada pela banda de volta da bateria de Dominic enquanto na pirâmide flamejavam labaredas. O encore teve três músicas, fechando o concerto em apoteose com Knights Of Cydonia, que já foi considerada várias vezes pela imprensa britânica como “uma das melhores faixas de sempre para fechar concertos”. Após este tema, os Muse abandonaram o palco prontamente, com a excepção de Dominic, que veio ao microfone principal agradecer, aplaudir e tecer elogios ao público presente no Campo Pequeno.

De louvar foi também toda a cenografia do concerto que, conjuntamente com os temas eximiamente tocados, enalteceu todos os momentos daquela noite, estabelecendo uma combinação perfeita entre a música e o espectáculo visual, elevando o concerto ao nível de um espectáculo audiovisual de alta qualidade. Exemplo disto foram as bolas insufláveis gigantes libertadas para a plateia, que eventualmente rebentavam levando a uma chuva de confettis, e todos os temas mostrados no painel de luzes, com destaque para a chuva de estrelas aquando de Starlight, a dança frenética de robôs ao som de Supermassive Black Hole e as letras gigantes com o refrão de Knights of Cydonia.
De parabéns está também a organização do concerto que fez um trabalho excepcional e a escolha da sala de espectáculos não poderia ter sido melhor: o look vintage do Campo Pequeno encaixou perfeitamente no estilo musical dos Muse, revelando-se um elemento essencial de uma noite perfeita.

Os Muse mostraram que continuam a fazer música com qualidade e a protagonizar espectáculos fantásticos e não apenas meros concertos, deixando indubitáveis marcas na memória dos presentes.

Link it to the world, link it to yourself…

Setlist:
Take A Bow
Histerya
Map Of The Problematique + Riff
Butterflies And Hurricanes
New Born
City Of
Delusion

Plug In Baby
Forced In
Bliss
Apocalypse Please
Hoodoo
Invincible
Supermassive Blackhole
Starlight
Time Is Running Out
Stockholm Syndrome + Riff

Citizen Erased
Muscle Museum + I Want To Break Free (riff)
Knights Of Cydonia

segunda-feira, outubro 23, 2006

E recomeça

Na próxima Quinta-feira recomeça a época de concertos, embora mais curta que a anterior. Depois desta pausa, os colaboradores deste espaço vão assistir aos concertos mais esperados do momento, dentro da cena Pop-Rock alternativa e do Metal-Progressivo. Vamos estar presentes em Muse (Poet in Process para abrir), dia 26 de Outubro, e em Tool (com Mastodon como banda de abertura) dia 5 de Novembro.

Aguardem comentários para breve.

Está agendado, também, um concerto de Enablers (banda da Neurot Recordings, que tem um membro dos Swans), dia 10 de Novembro… Vamos ver o que se consegue fazer.

domingo, outubro 22, 2006

Bauhaus @ Paredes de Coura (dia 17)

Bauhaus não foi somente o concerto da noite de 17, mas foi, também, o concerto do festival Heinneken Paredes de Coura de 2006. Peter Murphy e companhia, considerados os pais do gótico, trouxeram todas as suas ambiências negras, todo o romantismo e toda a inteligência das suas letras para um concerto inesquecível e infernal. Mesmo a chuva ajudou ao espectáculo, que parecia propositado. Murphy não deixou de ajudar a este facto clamando “It’s raining… god must be winning”.

Foi um concerto em que as luzes, tão negras e pouco vivas, se mostraram um excesso. O concerto, a música, eram tão negros que ao envolver faziam as luzes custar. As rosas vermelhas à volta da bateria ajudavam imenso à imagem da banda, tão dark, todos vestidos de preto, com excepção do guitarrista – Daniel Ash – que ostentava um belo casaco berrante e branco.
A banda deu um concerto muito teatral, apesar de todo feeling que transmitia ao público. Os ecrãs, que até então eram réplicas para quem se encontrava longe do palco, com eles eram imagens a preto e branco, ainda mais fiéis, do que se passava lá. Todas as ambiências estavam a ser aproveitadas ao máximo.

Instrumentalmente a banda mostrou-se melhor do que eu esperava. Ash, para além do som de guitarra que caracteriza Bauhaus, tocou ainda saxofone, mostrando já alguma experiência no instrumento. O baixista – David J – deu todo o sentimento gótico à música e ainda se apresentou numa atitude muito altiva, mas não presunçosa. Não estava a dar tanta vivacidade ao concerto como Murphy e Ash, mas o seu contributo ficou, certamente. Kevin Haskins, o baterista, com a sua bateria pouco preocupada com o ritmo, mostrou-se fiel aos álbuns.
O concerto começou logo com um dos grandes êxitos do primeiro álbum da banda, In The Flat Field, com a música Double Dare. Para quem conhecia a banda, começou imediatamente um concerto inesquecível. Passaram pelo que não podiam evitar: In The Flat Field, God in an Alcove, Dark Entries, Satori…

O concerto teve direito a 3 encores, facto inatingível por nenhuma das bandas que tocaram antes de Bauhaus havia conseguido. O primeiro encore foi o delírio. Para um concerto que já estava a ser impressionante, os britânicos tocaram Atmosphere, dos seus contemporâneos Joy Division, fazendo toda a gente saltar e cantar. Foi o realizar de um sonho para muita gente que, como eu, nunca teve a oportunidade de ouvir a banda de Ian Curtis ao vivo. Ainda mais tocado por alguém contemporâneo, o que dá muito mais valor ao acontecimento.

Este foi o melhor encerrar de festival a que já tive o prazer de assistir.

Dia 17/08, Paredes de Coura

Dia 17 começou com os Catpeople, espanhóis, vindos da capital da Catalunha. Os meninos de Barcelona tentam recuperar os post-punk de Joy Division e Interpol e não escondeu a falta de originalidade que os caracteriza. Apesar de tudo, têm uma personalidade que, cedo, os diferencia. Ou então, Interpol e Joy Division são simplesmente inconfundíveis. Eu acredito que ambas as opções são verdades.
Catpeople começaram a tocar por volta das 18h. Sofreu, como já havia acontecido neste festival, do “síndrome da hora”. Por tocarem tão cedo, nem o publico estava predisposto, ou nem chegava mesmo a haver publico. Ainda assim, eles não se inibiram, e deram o seu melhor, certamente, dadas as condições, pouco mais havia a fazer. O vocalista assumiu na perfeição a liderança da banda, não deixando de mostrar alguma frustração (sinceramente, não sei se era parte do espectáculo ou era mesmo como ele se sentia) e usando-a em prol do concerto, o que mostrava um grande envolvimento de sua parte. O resto da banda não se evidenciou muito, mostrando-se muito presa ao chão em que se encontrava. As músicas estavam incrivelmente semelhantes ao que se conhece deles em estúdio, o que merece um destaque.

Seguiram-se os Shout Out Louds, vindos da Suécia. Apresentando uma forte influencia de The Cure, deram um concerto Foram mais animados, e conseguiram envolver muito mais o público que os Catpeople. Nem mesmo a chuva demoveu aquela gente. O vocalista mostrou-se muito comunicativo, o que também ajudou a prender a audiência. A banda mostrou uma vivacidade interessante em palco, nunca estando estática. Musicalmente mostraram-se muito fiéis ao que apresentam em álbum, o que só lhes dá pontos a favor. A teclista, típica senhora nórdica, não passou ao lado de alguns membros masculinos da audiência, que não deixaram de mandar o ramo de flores, que ela, sempre muito simpática, agradeceu (o vocalista não apreciou muito essa situação, visto que se tratava da sua noiva). Os meninos de Estocolmo mostraram-se muito calorosos.

Maduros é uma banda que nem me atrevo a comentar, por ter sido um concerto tão mau. Outras bandas portuguesas, que certamente dariam um concerto no mínimo decente, mereciam aquele lugar no cartaz muito mais que esses senhores. O nome é a única coisa que têm. Foi o pior concerto do festival, de longe.

Seguiram-se o !!!, que estão, sem dúvida de parabéns. Segundo sei, já o ano passado de 2005 deram um concerto memorável e, por exigência da banda, voltaram este ano, no mesmo dia, uma hora e pouco mais tarde, para dar outro concerto incrivelmente bom, e deixaram, mesmo, a promessa de um regresso para o ano que vem, ainda mais tarde. Aguardo.

Os !!!, com a sua música electrónica instrumental, puseram Paredes de Coura inteira a dançar. Não havia, naquele anfiteatro, quem se encontrasse estático. O concerto foi, acima de tudo, contagiante. Os vocalistas, mostraram uma energia incrível e uma interacção com o publico digna de destaque. Nem mesmo eles pararam de dançar e fizeram o espectáculo por si – que o resto da banda entretinha-se a instrumentalizar a sua música de dança. Os vocalistas chegaram mesmo a ir às grades, pôr o publico a cantar a dançar ainda mais. Mexeram com toda a gente; a indiferença não era uma opção. Espero que eles voltem, realmente para o ano que vem, com um novo álbum (que não tarda para ser editado).

The Cramps foi um concerto interessante, mas muito fraco, tendo em conta tudo o que os anteriores !!! provocaram e conseguiram. A banda mostrou-se muito parada – com excepção do vocalista que, com a ajuda de muito álcool, se mostrava eléctrico – e com grandes dificuldades de tocar. A música era muito repetitiva e pouco apelativa. O que temia para os Gang of Four, concretizou-se com The Cramps.

sábado, outubro 21, 2006

Bloc Party @ Paredes de Coura (dia 16)

Bloc Party foi o concerto da noite de 16. Quem já esperava algo de bom da parte deles, ficou surpreendido; quem esperava algo de muito bom, também se assustou com o que eles trouxeram. Já apresentaram algumas músicas do novo álbum, que não tarde deve estar a sair, mas não o suficiente para chegar a uma conclusão. Ficaram-se principalmente pelo Silent Alarm e fugiram apenas para tocar os singles de mais sucesso, antes do álbum, Little Thoughts e, depois do álbum, Two More Years (que foi das músicas mais aclamadas, como seria de esperar). Kele – o vocalista – mostrou uma empatia muito boa com a audiência, o que ajudou imenso no espectáculo e familiarizar tanto a banda, como o próprio público.

Banquet foi das músicas que mais impressionou. Quem já tinha visto filmes e clips, sabia que eles a tocavam a um ritmo muito mais acelerado, mas ainda assim – como já referi – surpreendeu tanta energia e tanta vida. Mesmo quando já eles tinham parado de tocar, havia quem insistisse a fazer o stage-dive. Claro que outra música que levou o publico ao rubro foi Helicopter, como já esperava o Kele, que chegou mesmo a afirmar “it’s time to get wild”.

Os solos de guitarra mostraram-se tecnicamente superiores do que são em álbum, e o guitarrista – Russel – mostrou ter presença e, ainda mais importante, feeling para o que toca.
O baixo e a bateria estavam muito certinhos, instrumentalmente nada tenho a apontar. Mas em termos de atitude, tenho sim. Até aqui houve surpresa. Nem o baterista – Matt – nem o baixista – Gordon – se mostraram apagados em relação à audiência, comunicando imensamente, tanto verbal como gestualmente.
Kele, como já referi, manteve uma bela comunicação com o público. Não deixou, mesmo ele, de mostrar a sua surpresa para tão bom concerto, dizendo que não esperava ser tão reconhecido em Portugal, ou alguma vez dar um concerto tão bom.

Com sorte, teremos um regresso destes meninos muito rapidamente, assim que o novo álbum for lançado.

Dia 16/08, Paredes de Coura

Dia 16, o dia que pessoalmente mais aguardava, com um cartaz mais promissor e mais familiar. Correspondeu perfeitamente às expectativas e chegou mesmo a excede-las, em certas situações.

Infelizmente não pude assistir ao concerto assistir aos concertos de Vicious Five, nem de Eagles of Death Metal. Estou certo de que foram concertos muito enérgicos (pelas impressões que troquei, posso concluir isso). Ficará para uma próxima.

Gang of Four foi um concerto que me surpreendeu grandemente. São uma banda lendária, mas que, supostamente, já havia deixado a estrada e os concertos há alguns anos. Tal regresso poderia muito bem representar as dificuldades que agora atravessavam e, portanto, uma qualidade não muito satisfatória dos espectáculos. Muito pelo contrário, estes veteranos do post-punk vieram para calar muita gente. Com um concerto super electrificante, mostraram que ainda não perderam a atitude contestatária que os moveu no início. Músicas como To Hell With Poverty mexeram toda a gente. O vocalista, com a sua atitude pseudo-sexy e poses anti-presença fez muita gente saltar; o baixista nunca parou de correr, saltar e seja mais o que for, ele fazia; o guitarrista era o membro de classe da banda, sem nunca se mexer muito e com muita calma, acabou por surpreender ainda mais que os outros ao mostrar uma pose muito mais vivida, e não uma presença presunçosa. Realço a situação do microondas, em que o vocalista e um taco de baseball dão um ritmo mais batido à música. Este foi um concerto impressionante.

Seguiram-se os Yeah Yeah Yeahs, que chegaram e começaram logo com a força toda. Karen O como estrela principal, sem sombra de dúvidas. Como seria de esperar, o concerto foi mais centrado no último álbum, mas ainda assim fizeram-se as naturais recuperações a Date With a Night, Maps e Y Control, repletos de gritos orgásmicos e gemidos sonoros, que caracterizaram o grande álbum que é Fever to Tell. Date With a Night foi um ponto digno de relevância no concerto, em que os gemidos da Karen puseram toda a gente a saltar e mesmo a gemer com ela. Claro que Gold Lion não passou ao lado de ninguém, sendo acompanhada com um “sing-along” de todo o público – o que é mais que compreensível, visto que muita gente só conheceu os Yeah Yeah Yeahs por esse single de Show Your Bones. Infelizmente, a falta de comunicação entre a banda e o publico levou o concerto um pouco à monotonia; nesse aspecto podia ter sido muito melhor. Ainda assim, foi super contangiante. O resto da banda também mostrou uma atitude muito rock e desinibida (claro que nunca como a nossa grande Karen) e contribui imensamente para o bom espectáculo. Aguardo um regresso destes senhores do rock, que bem que merecem a minha presença num concerto, novamente.

We Are Scientists fecharam a noite com um concerto muito mau. Eles chegaram mesmo a pedir desculpa, visto que não tinham culpa do grande concerto que Bloc Party deu. Nesse aspecto, dou-lhes toda a razão. A organização mudou a ordem do cartaz à última hora, pondo We Are Scientists como cabeça de cartaz, o que foi um grande erro. O sentido de humor da banda também não ajudou muito no concerto, o que levou as pessoas a abandonarem o anfiteatro para as tendas e para o palco Afterhours.

Broken Social Scene @ Paredes de Coura (dia 15)

Broken Social Scene foi o concerto de dia 15. Genericamente, pouco mais há a dizer sobre estes senhores e senhoras, que deram água pelas barbas a Morrissey e a todos os que actuaram antes. Quem acreditava que tanta gente em palco podia dificultar o espectáculo e as actuações, enganava-se redondamente. Os canadianos conseguem juntar o seu rock, com um toque da música clássica, com um pouco do blues que toda a gente gosta de ouvir, leve e de fundo e ainda com a sua atitude independente num espectáculo frenético, mas não sufocante. Envolve, mas não nos leva. É um concerto suave, por assim dizer. Apesar de tudo, muito enérgico.

Não há ninguém a realçar na banda, visto que todos foram excepcionais. Mas faço uma referência aos membros femininos do grupo, que mostraram uma atitude muito viva e até sensual, de uma forma muito pura e nada promíscua ou atrevida. Leslie Feist, com Anthem For a Seventeen Year Old Girl, acabou por assumir a banda de uma forma muito característica. A violinista mantinha uma postura muito própria e interessante, não deixando de se evidenciar a nível musical com o som do seu instrumento, que sobressaía às guitarras e aos sintetizadores tão comuns no rock.

Broken Social Scene foi um concerto muito vivo e sentido, tanto pela banda que afirmou sentir-se “como que em casa”, visto que em Toronto também há imensos portugueses, como pelo público em geral, que se deixou envolver pela sonoridade deles, que mesmo que não seja original, tem uma identidade muito própria que os distingue das restantes bandas de indie-rock actual.

Dia 15/08, Paredes de Coura

Dia 15, sem dúvida algo a não esquecer, nem que seja pelo facto de ser o primeiro dia do festival, propriamente dito. O jazz na relva, merece, sem sombra de dúvida um grande realce. Com uma onda de boa disposição e boa vontade tanto da audiência, como da banda de José Eduardo, a tarde foi mais rápida do que todos desejámos. Desde reinterpretações de músicas de José Afonso aos clássicos do jazz, foi uma tarde que marcou a todos presentes com um toque português muito interessante.

Por volta das 18h, abriu, finalmente, o recinto do festival. Começou o concerto de White Rose Movement. A banda britânica, cujo álbum foi produzido pelo mesmo senhor de Silent Alarm (Bloc Party) e Echoes (The Rapture), deu um concerto deveras interessante. Infelizmente, teve o grande handicap do concerto ser tão cedo; o público não estava muito receptivo ou simplesmente não estava. O recinto estava muito vazio e a audiência estática, ainda a esperar pelos próximos. Apesar de tudo o concerto foi muito enérgico e cheio de uma energia punk muito forte, ajudada pela batida mais electrónica da banda, que inclui no seu reportório de influências os lendários New Order. Alguns imprevistos durante o concerto, com microfones e guitarras, cortaram o baixo ritmo (não por culpa da banda, volto a referir) do concerto. Mas foi uma actuação arrogante, como nenhum punk não devia deixar de ser, e muito enérgica; no final, a simpatia que a banda não mostrou durante o concerto, para manter a postura, revelou-se. Seria um concerto interessante de ver com mais público e principalmente com um público predisposto.

Depois de uma breve pausa, tocaram os Gomez, sobre os quais tenho pouco a dizer. O concerto foi deveras muito monótono e menos enérgico do que seria, à partida, possível, mostrando-se bastante inferiores aos WRM, que haviam actuado anteriormente.

Os noruegueses Madrugada vieram, então, tentar a sua sorte. Foi um concerto interessante, e mais esperado pelo público, essencialmente. Com uma audiência mais selecta, muitos que se deslocaram até Paredes de Coura propositadamente para os ver, possibilitaram uma primeira meia-hora muito boa e viva. Infelizmente, acabou por se tornar um concerto monótono. A repetição de movimentos, principalmente por parte do vocalista, que deveria assumir uma posição mais viva e menos rotineira em palco, visto que é a inevitavelmente a imagem da banda, fez com que o concerto acabasse por perder qualidade. Mas realço, novamente, a primeira meia-hora do concerto, que foi, sem qualquer sombra de dúvida, algo de impressionante para quem nada esperava dos Madrugada.

Morrissey foi a grande desilusão da noite. O concerto mais aguardado foi uma quebra para os mais neutros – e uma alegria incondicional para quem estava lá exclusivamente para o ver (e não eram poucos) – que esperavam algo de melhor do pai do rock-alternativo. O seu carácter egocêntrico – tendo em conta que é uma estrela e um importantíssimo ícone da música, nem que seja por ter sido o vocalista dos The Smiths – criou um fosso muito grande entre a audiência, os músicos e ele mesmo. Havia uma grande distância entre ele e a banda, o que dava um carácter demasiado impessoal a um concerto de tamanha magnitude. Infelizmente, Morrissey pouco fez em termos de espectáculo, senão agitar o fio do microfone (que deu muitos problemas). Ainda assim, nem a chuva movia toda aquela gente para longe do palco.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Clips

Há já algum tempo que aqui não escrevo. E hoje não vou fugir à regra. Vejam estes clips. Acreditem, valerão bem mais que qualquer texto meu...






quarta-feira, setembro 13, 2006

Dia 14/08, Paredes de Coura

Pouco tenho a apresentar sobre o dia 14, senão mesmo o Workshop de Jazz, realizado no palco Ruby, dirigido por José Eduardo, fundador da Escola de Jazz do Hot Club. Aquilo que inicialmente seria um incentivo para o Jazz, tornou-se numa demonstração das pessoas que acabavam por subir ao palco, tanto por vontade própria, como por insistência de quem os rodeava. Finalmente, acabou por se tornar numas demonstrações de bandas novas, ainda desconhecidas, que revelavam algo de interessante (quem sabe se não representou o ponto de partida para algo). José Eduardo cedo acabou por organizar toda aquela evolução, cedendo às evidencias: o rumo havia sido tomado. Alguns talentos interessantes apareceram naquele momento, principalmente no contrabaixo, que, por muitos baixistas que lá estivessem, poucos o tocaram, e menos ainda os que tocaram decentemente.
Mais tarde ou mais cedo, acabaria por acontecer o inevitável: as músicas das gerações vieram ao de cima. Tocou-se os típicos Nirvana, etc., mas o ponto alto foi a subida ao palco do senhor que, para além de se encontrar bastante deslocado geograficamente (confundindo Paredes de Coura com Vilar de Mouros), já se encontrava fora de si. Nunca a “Satisfaction” dos Rolling Stones me pareceu mais divertida.


Voltarei brevemente com mais artigos sobre o festival de Paredes de Coura.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Paredes de Coura 2006

Entre os dias 14 e 17 deste mês de Agosto, decorreu o festival Heineken Paredes de Coura. Este, por ser algo mais que um concerto, vai ser apresentado em artigos vários: um que fala do geral do festival (que será este), outro dedicado a cada dia de concertos e um para o “melhor” concerto de cada dia (na minha opinião, claro). Não vou poder referir todos os acontecimentos registados no festival, pois devido a vários factores (metereológicos, físicos e temporais) não pude presenciar. Acontecimentos que passo a descriminar: tudo o que decorreu no palco Afterhours, o segundo dia de “Jazz na Relva” do palco Ruby, o concerto de maduros (este por opção. Acho que não há necessidade de massacrar ninguém), o concerto de The Vicious Five e o concerto de Eagles of Death Metal.

Quanto às condições o festival de Paredes de Coura distingue-se de todos os outros, tanto a nível sanitário como a nível infra-estruturas. Por ser um espaço mais pequeno e restrito que todos os outros festivais, o número de gente que tem capacidade para receber também é menor, portanto, número limitado de bilhetes e outras medidas são tomadas como iniciativa. Não só este facto faz do festival de Paredes de Coura um acontecimento um tanto alternativo, que acaba por torná-lo, também, num festival elitista e de culto, não só para os festivaleiros, mas também para as bandas. E por abranger um número tão restrito de gente, as condições sanitárias acabam por ser de fácil manutenção, o que é raríssimo e quase impossível de atingir.
Para os concertos, as infra-estruturas naturais do recinto são perfeitas, tanto para a acústica como para a facilidade que o publico tem de assistir aos concertos – visto que o recinto do palco principal é um anfiteatro natural (fotos a apresentar num artigo mais tardio).

Mas nem tudo são flores, em Paredes de Coura. Infelizmente para os vegetarianos (que no caso de Paredes de Coura são imensos) a alimentação era impossivelmente saudável, graças ao monopólio de grandes empresas de restauração/fast-food – as quais não vou referir, até porque estas dispensam apresentação – e as alternativas apresentadas, para além de caras, não tinham muita alternativa para oferecer. Espero que este problema possa vir a ser ultrapassado no próximo ano.

A chuva também se apresentou como contratempo, apesar de já ser como que tradição no festival, ao que parece, este ano foi mais abundante. Houve concertos em que a chuva ajudou, em termos de ambiências, etc. Mas ainda assim foi o maior obstáculo para os espectáculos. Felizmente, tanto a vila de Paredes como as cidades e vilas mais próximas, estavam já preparadas para tal acontecimento e ninguém (ou quase ninguém, pelo menos) foi apanhado desprevenido, e se foi, preveniu-se.

Este foi o primeiro de alguns artigos sobre paredes, algo deveras vago, mas necessário como introdução ao festival propriamente dito. Estarei de volta daqui a uns dias com novos artigos, desta vez com fotografias.

sexta-feira, agosto 04, 2006

"Prazeres Desconhecidos"

Joy Division é uma das bandas mais importantes de sempre da cena Rock mundial. Comparáveis aos Beatles, até, sem qualquer exagero, graças ao numero de portas que abriram no Rock.

No ano de 1976, a banda que mais tarde se viria a intitular de Joy Division (nome dado aos grupos de mulheres judaicas, dos campos de concentração, que iriam satisfazer sexualmente as tropas de Hitler) juntou-se, movidos pelo entusiasmo gerado pelo concerto dos Sex Pistols, em Manchester (Madchester, como seria conhecida a cidade por causa do número de bandas com relevância naturais de lá, como os Joy Division). Depois de alguns problemas com os bateristas, a banda, por volta do ano de 1977, definiu os seus membros: Ian Curtis, o vocalista; Bernard Sumner (Bernard Albrecht), guitarrista e teclista; Peter Hook, baixista; e Stephen Morris, o baterista.
Gravaram a primeira demo, um EP de cinco músicas, completamente entregue ao estilo Punk. Mais tarde, no final desse mesmo ano de 77, gravaram algumas músicas, que seriam lançadas em 78, com um estilo de música bastante diferente do inicial, o estilo que caracterizou Joy Division: o baixo como melodia principal, acompanhado por uma bateria forte e constante e uma guitarra muito característica; a voz de Ian Curtis também é digna de destaque, graças ao seu tom depressivo, que acabou por se tornar a imagem da banda. Em 1979, lançaram “Unknown Pleasures”, o primeiro álbum.
Em Maio de 1980, graças ao estado avançado da sua epilepsia, ao seu desejo de morrer novo e ao seu estado depressivo constante, Curtis comete suicídio por enforcamento – hoje faz parte do Clube dos 27, entre Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix –, o que ditou o fim de Joy Division e o início de New Order.

Apesar de deixados um pouco de parte do conhecimento geral, Joy Division é uma das principais influencias de mais de metade das bandas rock actuais. Bloc Party, Shout Out Louds, Morrissey, Arcade Fire, Dandy Warhols, Mars Volta, National e muitos outros reflectem um pouco do trabalho de Curtis e companhia, a nível de ambiências e a nível musical. Há, claro, as bandas que tentam assumir o título de “Joy Division actuais”, fazendo a sua música baseada mais inteiramente no produto deles, por exemplo, She Wants Revenge, Editors, Cat People e Interpol. Estes últimos merecem um maior destaque em relação aos outros, visto que exploraram mais e melhor o trabalho de Joy Division e o seu estilo musical. Conseguiram atingir situações bastante experimentais e musicalmente complexas, nunca deixando de ser fiéis às ambiências depressivas de Curtis e à musicalidade da banda de inícios de 80.

Joy Division representa a explosão de Rock dos anos 80, o que delineou o fosso entre o Punk e o Post Punk. Muitas bandas lhes seguiram os passos, bandas que ainda hoje existem. Muitas bandas vão continuar o seu legado, incluindo os próprios New Order. Muitas bandas vão continuar a ser influenciadas por eles, mesmo que sem consciência, assumindo como influência outras bandas que por eles foram influenciadas.
A importância de Joy Divsion é observável, também, em 24 Hour Party People, um filme intitulado com o nome de uma das suas músicas, que retrata a cena musical de Madchester dos anos 80. Joy Division tem direito a um grande destaque no todo do filme, visto que metade do filme gira em torno de Ian Curtis e companhia.
Joy Division é das bandas mais importantes de sempre da cena Rock.

segunda-feira, julho 31, 2006

"Takk", Sigur Rós @ Atlântico

Sigur Rós, o concerto que fechou a tour de apresentação de “Takk…” foi no dia 16 de Julho, no nosso jardim à beira-mar plantado, no Pavilhão Atlântico. Após 8 meses da última presença em Portugal, no Coliseu de Lisboa, a banda islandesa voltou para um concerto memorável – assim como o foi no Coliseu.


Por volta das 21h, começou a banda de abertura, Amiina, o quarteto de cordas, que desde há um ano que acompanha os islandeses, abrindo os seus concertos. Este começo de serão é perfeito para o que se avizinha, calmo e relaxante, preparando o público com o espírito perfeito para um concerto de Sigur Rós. Pelo que me pareceu, no final a sua actuação, a banda presenteou os que ali se encontravam com uma música electro-punk que em nada fazia o estilo da banda no todo da actuação. Alguma razão em especial, uma quebra, o início do que todos esperavam…


Após uma breve pausa, desceu uma tela, mais tarde apagaram-se as luzes, o burburinho de um concerto muito esperado começa, até se começar a ouvir os primeiros sons, vindos do palco. Seja música ou não, o silêncio vence todo o nervosismo. “Glósoli” inicia o concerto, enquanto as sombras de cada um dos membros de Sigur Rós são projectadas nas telas, acompanhando as imagens que já a ocupavam.


A banda tocou quase todas as musicas do seu mais recente álbum, “Takk…”, e fez algumas passagens pelos seus álbuns posteriores, “Ágætis Byrjun”, o seu álbum de estreia, e “( )” - inclusive a ultima musica, que a todos surpreendeu, mas já lá vamos. “Hoppípolla”, entre “Gong”, “Saeglopur” e “Glósoli”, foi a mais aclamada das músicas de “Takk…”, cujo início todo o público aplaudiu ardentemente. A realçar a passagem por “Sé Lest”, em que o quarteto de metais que acompanha a banda faz uma surpresa, fazendo uma entrada nada esperada, mantendo a fidelidade com o a música no álbum.


Sigur Rós é uma banda cuja intensidade de cada música, em álbum, é muito grande e tem a capacidade de provocar os mais diversos estados emocionais em quem ouve. Ao vivo, a banda excede-se nesta característica, elevando a dimensão de cada tema a um nível psicológico e emocional mais intenso, o que faz dos seus concertos algo “pesados”, carregados, mas imensamente bonitos – não sei que outro adjectivo possa usar. Mesmo as passagens pelo silêncio, durante as musicas, que a banda fez e provocou em todo o público, foram de uma beleza e soaram de uma forma quase musical; também com silêncios se faz musica, se faz espectáculo, e os Sigur Rós mostraram que o sabem fazer melhor que ninguém.


Após um curto momento no backstage, o concerto continua, cada vez mais intenso. E, quando mais ninguém conseguia esperar ou imaginar algo de novo, uma emoção mais forte, a banda islandesa surpreende todos os presentes com a suposta “Popplagið”, como é conhecida o último tema do álbum “( )”. Esta última música atingiu um nível de intensidade imenso, fruto de um crescente de cerca de 10 incessantes minutos. Poucas palavras existem para descrever aquele momento, em que a tela desceu novamente para nos encher com as sombras dos Sigur Rós.


Foi sem duvida um dos concertos do ano. Só há uma palavra que descreve na perfeição o espectáculo que foi: Takk.

quinta-feira, julho 27, 2006

Contrabanda, 15 de Junho, em Coimbra

Já lá vai um tempo desde este concerto, mas nunca é tarde para lhe fazer referência. Contrabanda, na zona da solum, em Coimbra, dia 15 de Junho.


Havia pouco tempo que a banda tinha feito 3 meses de existência, mas a sua presença em palco demonstrava já alguma maturidade. Apesar de alguns erros, o concerto decorreu perfeitamente e cheio de atitude Reggae, num constante chamamento pelas raízes (“roots”, como lhe chamavam), pelo consenso e pela compreensão de toda a gente. A música era rica em sentimento e atitude, bem reflectida pela banda, que acabou por deixar o pouco publico presente (por falta de fundos para publicidade por parte da entidade organizadora) imensamente à vontade.
Um pequeno destaque para o teclista, dotado em técnica e em sentimento, cujos solos foram os pontos altos do concerto. Solos coerentes, não maçadores e bem integrados na música. Quando não solava, estava realmente bem na música, sempre no seu lugar, dando a melodia principal à música, visto que o Reggae é tocado à base de ritmo, mas sem nunca assumir um cardo superior na música.

Aguardo por mais desta banda.

domingo, julho 09, 2006

Dixieland, 9 de Junho de 2006

Deixo desde já as minhas desculpas pelo desleixo, que na realidade é um preço que se paga aquando se estuda e se está em época de exames. Nos próximos tempos, tendo em conta que começaram (finalmente) as férias, vamos começar a escrever com mais frequência.

Apesar deste espaço estar dedicado às variações que surgiram do rock e ao próprio rock, seria um erro enorme esquecer as origens deste: os blues. Dos blues surgiu, também, um dos estilos de musica mais técnicos, mais complexos e mais sentidos que já tive o prazer de ouvir e de ver: o jazz.


Anualmente é realizado um festival de jazz de rua, o Dixieland, em Cantanhede. No dia 9 do mês de Junho, não pude deixar de passar pela tenda onde decorriam os concertos de jazz, tão livre e tão primário quanto a origens. Uma ambiência que nos lembrariam os próprios anos 20, se as roupas fossem a condizer.


Inicialmente, fiquei desiludido, que a tenda parecia mais estar a receber um evento social que um evento musical. Mas por volta da meia-noite as pessoas da “alta sociedade” começaram a sentir-se fatigadas e abandonaram a tenda, soltando os músicos, que tomaram como objectivo principal, a partir desse momento, divertirem-se a si mesmos e ao publico e não dar um espectáculo apresentável, e soltando o próprio publico, que já não tinha a “censura às costas”. Começou a festa. De todas as bandas que seguiram a meia-noite, nenhuma esteve menos que fabulosa. Tenho pena de não ter tomado nota dos nomes das bandas, apesar de metade delas se terem reunido apenas para o evento, com certeza um desafio para eles e uma delícia para quem teve o prazer de os ver. Também tive o azar de não ter assistido à famosa “street parede”, no dia seguinte, em que os músicos se aventuram pelas ruas da cidade, acompanhados por grupos de dança e animadores, e fazem levam a festa para fora da tenda onde estiveram fechados nos dias anteriores.

Para o ano, espero poder "perder" mais tempo neste festival, que bem o merece.

terça-feira, maio 30, 2006

Dia 26, Super Bock Super Rock

Sexta-feira que passou, dia 26, dia de Super Bock Super Rock. Actuaram DaPunkSportif, If Lucy Fell, X-Wife, Primitive Reason, Alice In Chains, Deftones, Placebo, The Vicious Five e Tool. Um dia de algum peso, de grandes espectáculos e de grandes concertos.

Com alguma pena minha, perdi as primeiras 3 actuações (Primitive Reason, DaPunkSportif e Alice In Chains – este ultimo em parte, apenas). Mas suponho que a perda não foi significativa, tendo em conta, principalmente, o que vi do concerto de Alice In Chains, que me pareceu um concerto mais para os fans e pouco cativante, e tendo em conta, também, os concertos que se seguiram, dos quais eu vou falar numa ordem cronológica.

If Lucy Fell, com o seu Post-Hardcore, demonstraram atitude em palco – principalmente por parte do vocalista – e uma grande energia. É o que chamo de um “bom começo” (que ainda era de dia). O baterista – sobre o qual não me vou estender muito, visto que já falei dele, num post dedicado a uma outra banda a que pertence, os Linda Martini – demonstrou-se, como já esperava, grande; sendo If Lucy Fell uma banda muito técnica, ele provou que tem estofo e técnica para a aguentar com alguma facilidade.

Os Deftones deram um bom concerto. O baterista, de início, cometeu alguns pequenos grandes erros, e a voz do Chino Moreno não estava muito fiel ao que os cds nos habituaram. O concerto em si foi um pouco monótono, sem grandes altos, mas sem nenhum baixo. As músicas mais conhecidas acabaram por mover o publico, que, maioritariamente, conhecia bem a banda – fiquei com pena de não haver mais um refrão na Passenger. Durante a Hexagram, Chino Moreno Decidiu saltar para as grades e interagir com o público, o momento alto do concerto.

X-Wife, com um som de excelente qualidade, puseram todo o publico a dançar ao som do Electro-Rock a que nos habituram a ouvir nas rádios. Este foi um dos concertos que infelizmente só duraram 20 minutos, que pouco fica para adiantar. Espero poder ver um concerto completo e decente deles (e com um background maior da minha parte).

Os Placebo, foram para mim, a grande surpresa da noite. Uma banda que até então me deixava apreensivo, conquistou-me com o profissionalismo e com o excelente concerto que deram, que foi, indubitavelmente, o melhor da noite (farei a distinção entre “concerto” e “espectáculo” de seguida). depois do que vi deles, sinto-me na obrigação de afirmar que os Placebo são uma das bandas mais competentes do rock que se faz actualmente a nivel mundial. O pouco que interagiram com o publico foi mais que suficiente: não tirou a vontade de saltar que toda a gente tinha e colocou-nos o sorriso de quem reconhece a palavra “obrigado”, o que reflectiu o seu profissionalismo, visto que fizeram o que tinham de fazer com muita emoção e com gosto. Foram, também, a única banda com direito a um Encore – e que grande Encore. Foi um concerto electrizante, cativante, mas acabou, infelizmente.

The Vicious Five, com as suas músicas “dos putos para os putos”, contagiaram o publico com o seu enérgico Punk-Rock, tendo mesmo direito a alguns Stage Dives. O vocalista tem uns diálogos originais e irreverentes, como quem “pica”, procurando um pouco da fúria de toda a gente, uma fúria que também eles têm e expressam de forma alegre, através do Rock eléctrico e super dançável. Outro banda da qual espero ver mais do que 20 minutos.

Ora, chegamos ao melhor da noite: Tool. A banda deu um concerto infernal, simplesmente, proporcionando um espectáculo incrível. Espectáculo e não concerto, pois todo ele foi programado ao mais ínfimo e pequeno pormenor; cada batida de bateria, cada riff de guitarra e baixo, sempre acompanhado com filmes bem escolhidos, que ajudavam à ambiência que a própria musica, por si só, criava. Um concerto de emoções negras e de um peso emocional incomensuráveis, que foi apoiado pelo bom humor do vocalista Maynard James Keenan, que é conhecido pelo seu carácter de “rock-star” extramente egocêntrica; falou imenso, tendo mesmo começado o concerto com umas palavras em português, que prometeram logo algo em grande. O baterista, Danny Carey, não desiludiu ninguém, mostrando que é um dos melhores bateristas actuais, fazendo mesmo um pouco de música sozinho, apenas ele e a sua bateria. Os Tool confirmaram a sua genialidade, não só com este grande espectáculo, mas também com o seu último álbum, “10 000 Days”, 5 anos depois de Lateralus, sempre muito fiel ao estilo a que nos têm vindo a habituar, que está, musicalmente, muito bom, e com umas letras mais criticas quanto à sociedade/humanidade.

segunda-feira, maio 01, 2006

"Paisagens sónicas e experimentalismos líricos"

Eram as 22h e alguns minutos, quando me apercebi que aquela hora não seria “Efémera”, como a musica que começou, e o resto do concerto de Linda Martini.


Como disse o Tiago anteriormente, a cumplicidade deles era mais que musical – tendo em conta que já se estende desde há alguns anos, visto que os membros da banda já tocaram juntos nos Shoal, uma banda de Hardcore, que irá lançar alguns inéditos brevemente, pela editora Regulator Records.


As músicas estavam, inevitavelmente, maduras e bem trabalhadas. “Amor Combate”, “Efémera”, “Este Mar” e “Lição de Voo nº1” estiveram 2 anos para serem gravadas, passaram, portanto, por muito tempo e muito crescimento da banda.


Sobre os músicos, já tudo foi dito. São bons, humildes, conscientes e presentes. O baterista é por muitos considerado o melhor português de musica alternativa da actualidade. Não sei se vou tão longe quanto a elogiá-lo, mas é, no mínimo, a grande revelação e espero uma grande evolução da sua parte. A baixista tem uma presença muito própria, algo muito louvável. O vocalista não fala demais. Os guitarristas fazem o que têm a fazer. Principalmente, todos gostam do que tocam e não demonstraram menos ao fecharem os olhos para ouvir e sentir aquele experimentalismo e turbilhão de emoções; eu próprio me vi de olhos fechados.


Aguardamos – sinto que posso falar pelo Tiago também – impacientemente pelo álbum de estreia de Linda Martini. O EP deixou-nos muito impressionados, mas este concerto (que nos revelou algumas musicas, que não se encontram nem no EP, nem no site do Myspace, mas que estão presentes no álbum de estreia) deixou-nos simplesmente de “água na boca”.