segunda-feira, outubro 23, 2006

E recomeça

Na próxima Quinta-feira recomeça a época de concertos, embora mais curta que a anterior. Depois desta pausa, os colaboradores deste espaço vão assistir aos concertos mais esperados do momento, dentro da cena Pop-Rock alternativa e do Metal-Progressivo. Vamos estar presentes em Muse (Poet in Process para abrir), dia 26 de Outubro, e em Tool (com Mastodon como banda de abertura) dia 5 de Novembro.

Aguardem comentários para breve.

Está agendado, também, um concerto de Enablers (banda da Neurot Recordings, que tem um membro dos Swans), dia 10 de Novembro… Vamos ver o que se consegue fazer.

domingo, outubro 22, 2006

Bauhaus @ Paredes de Coura (dia 17)

Bauhaus não foi somente o concerto da noite de 17, mas foi, também, o concerto do festival Heinneken Paredes de Coura de 2006. Peter Murphy e companhia, considerados os pais do gótico, trouxeram todas as suas ambiências negras, todo o romantismo e toda a inteligência das suas letras para um concerto inesquecível e infernal. Mesmo a chuva ajudou ao espectáculo, que parecia propositado. Murphy não deixou de ajudar a este facto clamando “It’s raining… god must be winning”.

Foi um concerto em que as luzes, tão negras e pouco vivas, se mostraram um excesso. O concerto, a música, eram tão negros que ao envolver faziam as luzes custar. As rosas vermelhas à volta da bateria ajudavam imenso à imagem da banda, tão dark, todos vestidos de preto, com excepção do guitarrista – Daniel Ash – que ostentava um belo casaco berrante e branco.
A banda deu um concerto muito teatral, apesar de todo feeling que transmitia ao público. Os ecrãs, que até então eram réplicas para quem se encontrava longe do palco, com eles eram imagens a preto e branco, ainda mais fiéis, do que se passava lá. Todas as ambiências estavam a ser aproveitadas ao máximo.

Instrumentalmente a banda mostrou-se melhor do que eu esperava. Ash, para além do som de guitarra que caracteriza Bauhaus, tocou ainda saxofone, mostrando já alguma experiência no instrumento. O baixista – David J – deu todo o sentimento gótico à música e ainda se apresentou numa atitude muito altiva, mas não presunçosa. Não estava a dar tanta vivacidade ao concerto como Murphy e Ash, mas o seu contributo ficou, certamente. Kevin Haskins, o baterista, com a sua bateria pouco preocupada com o ritmo, mostrou-se fiel aos álbuns.
O concerto começou logo com um dos grandes êxitos do primeiro álbum da banda, In The Flat Field, com a música Double Dare. Para quem conhecia a banda, começou imediatamente um concerto inesquecível. Passaram pelo que não podiam evitar: In The Flat Field, God in an Alcove, Dark Entries, Satori…

O concerto teve direito a 3 encores, facto inatingível por nenhuma das bandas que tocaram antes de Bauhaus havia conseguido. O primeiro encore foi o delírio. Para um concerto que já estava a ser impressionante, os britânicos tocaram Atmosphere, dos seus contemporâneos Joy Division, fazendo toda a gente saltar e cantar. Foi o realizar de um sonho para muita gente que, como eu, nunca teve a oportunidade de ouvir a banda de Ian Curtis ao vivo. Ainda mais tocado por alguém contemporâneo, o que dá muito mais valor ao acontecimento.

Este foi o melhor encerrar de festival a que já tive o prazer de assistir.

Dia 17/08, Paredes de Coura

Dia 17 começou com os Catpeople, espanhóis, vindos da capital da Catalunha. Os meninos de Barcelona tentam recuperar os post-punk de Joy Division e Interpol e não escondeu a falta de originalidade que os caracteriza. Apesar de tudo, têm uma personalidade que, cedo, os diferencia. Ou então, Interpol e Joy Division são simplesmente inconfundíveis. Eu acredito que ambas as opções são verdades.
Catpeople começaram a tocar por volta das 18h. Sofreu, como já havia acontecido neste festival, do “síndrome da hora”. Por tocarem tão cedo, nem o publico estava predisposto, ou nem chegava mesmo a haver publico. Ainda assim, eles não se inibiram, e deram o seu melhor, certamente, dadas as condições, pouco mais havia a fazer. O vocalista assumiu na perfeição a liderança da banda, não deixando de mostrar alguma frustração (sinceramente, não sei se era parte do espectáculo ou era mesmo como ele se sentia) e usando-a em prol do concerto, o que mostrava um grande envolvimento de sua parte. O resto da banda não se evidenciou muito, mostrando-se muito presa ao chão em que se encontrava. As músicas estavam incrivelmente semelhantes ao que se conhece deles em estúdio, o que merece um destaque.

Seguiram-se os Shout Out Louds, vindos da Suécia. Apresentando uma forte influencia de The Cure, deram um concerto Foram mais animados, e conseguiram envolver muito mais o público que os Catpeople. Nem mesmo a chuva demoveu aquela gente. O vocalista mostrou-se muito comunicativo, o que também ajudou a prender a audiência. A banda mostrou uma vivacidade interessante em palco, nunca estando estática. Musicalmente mostraram-se muito fiéis ao que apresentam em álbum, o que só lhes dá pontos a favor. A teclista, típica senhora nórdica, não passou ao lado de alguns membros masculinos da audiência, que não deixaram de mandar o ramo de flores, que ela, sempre muito simpática, agradeceu (o vocalista não apreciou muito essa situação, visto que se tratava da sua noiva). Os meninos de Estocolmo mostraram-se muito calorosos.

Maduros é uma banda que nem me atrevo a comentar, por ter sido um concerto tão mau. Outras bandas portuguesas, que certamente dariam um concerto no mínimo decente, mereciam aquele lugar no cartaz muito mais que esses senhores. O nome é a única coisa que têm. Foi o pior concerto do festival, de longe.

Seguiram-se o !!!, que estão, sem dúvida de parabéns. Segundo sei, já o ano passado de 2005 deram um concerto memorável e, por exigência da banda, voltaram este ano, no mesmo dia, uma hora e pouco mais tarde, para dar outro concerto incrivelmente bom, e deixaram, mesmo, a promessa de um regresso para o ano que vem, ainda mais tarde. Aguardo.

Os !!!, com a sua música electrónica instrumental, puseram Paredes de Coura inteira a dançar. Não havia, naquele anfiteatro, quem se encontrasse estático. O concerto foi, acima de tudo, contagiante. Os vocalistas, mostraram uma energia incrível e uma interacção com o publico digna de destaque. Nem mesmo eles pararam de dançar e fizeram o espectáculo por si – que o resto da banda entretinha-se a instrumentalizar a sua música de dança. Os vocalistas chegaram mesmo a ir às grades, pôr o publico a cantar a dançar ainda mais. Mexeram com toda a gente; a indiferença não era uma opção. Espero que eles voltem, realmente para o ano que vem, com um novo álbum (que não tarda para ser editado).

The Cramps foi um concerto interessante, mas muito fraco, tendo em conta tudo o que os anteriores !!! provocaram e conseguiram. A banda mostrou-se muito parada – com excepção do vocalista que, com a ajuda de muito álcool, se mostrava eléctrico – e com grandes dificuldades de tocar. A música era muito repetitiva e pouco apelativa. O que temia para os Gang of Four, concretizou-se com The Cramps.

sábado, outubro 21, 2006

Bloc Party @ Paredes de Coura (dia 16)

Bloc Party foi o concerto da noite de 16. Quem já esperava algo de bom da parte deles, ficou surpreendido; quem esperava algo de muito bom, também se assustou com o que eles trouxeram. Já apresentaram algumas músicas do novo álbum, que não tarde deve estar a sair, mas não o suficiente para chegar a uma conclusão. Ficaram-se principalmente pelo Silent Alarm e fugiram apenas para tocar os singles de mais sucesso, antes do álbum, Little Thoughts e, depois do álbum, Two More Years (que foi das músicas mais aclamadas, como seria de esperar). Kele – o vocalista – mostrou uma empatia muito boa com a audiência, o que ajudou imenso no espectáculo e familiarizar tanto a banda, como o próprio público.

Banquet foi das músicas que mais impressionou. Quem já tinha visto filmes e clips, sabia que eles a tocavam a um ritmo muito mais acelerado, mas ainda assim – como já referi – surpreendeu tanta energia e tanta vida. Mesmo quando já eles tinham parado de tocar, havia quem insistisse a fazer o stage-dive. Claro que outra música que levou o publico ao rubro foi Helicopter, como já esperava o Kele, que chegou mesmo a afirmar “it’s time to get wild”.

Os solos de guitarra mostraram-se tecnicamente superiores do que são em álbum, e o guitarrista – Russel – mostrou ter presença e, ainda mais importante, feeling para o que toca.
O baixo e a bateria estavam muito certinhos, instrumentalmente nada tenho a apontar. Mas em termos de atitude, tenho sim. Até aqui houve surpresa. Nem o baterista – Matt – nem o baixista – Gordon – se mostraram apagados em relação à audiência, comunicando imensamente, tanto verbal como gestualmente.
Kele, como já referi, manteve uma bela comunicação com o público. Não deixou, mesmo ele, de mostrar a sua surpresa para tão bom concerto, dizendo que não esperava ser tão reconhecido em Portugal, ou alguma vez dar um concerto tão bom.

Com sorte, teremos um regresso destes meninos muito rapidamente, assim que o novo álbum for lançado.

Dia 16/08, Paredes de Coura

Dia 16, o dia que pessoalmente mais aguardava, com um cartaz mais promissor e mais familiar. Correspondeu perfeitamente às expectativas e chegou mesmo a excede-las, em certas situações.

Infelizmente não pude assistir ao concerto assistir aos concertos de Vicious Five, nem de Eagles of Death Metal. Estou certo de que foram concertos muito enérgicos (pelas impressões que troquei, posso concluir isso). Ficará para uma próxima.

Gang of Four foi um concerto que me surpreendeu grandemente. São uma banda lendária, mas que, supostamente, já havia deixado a estrada e os concertos há alguns anos. Tal regresso poderia muito bem representar as dificuldades que agora atravessavam e, portanto, uma qualidade não muito satisfatória dos espectáculos. Muito pelo contrário, estes veteranos do post-punk vieram para calar muita gente. Com um concerto super electrificante, mostraram que ainda não perderam a atitude contestatária que os moveu no início. Músicas como To Hell With Poverty mexeram toda a gente. O vocalista, com a sua atitude pseudo-sexy e poses anti-presença fez muita gente saltar; o baixista nunca parou de correr, saltar e seja mais o que for, ele fazia; o guitarrista era o membro de classe da banda, sem nunca se mexer muito e com muita calma, acabou por surpreender ainda mais que os outros ao mostrar uma pose muito mais vivida, e não uma presença presunçosa. Realço a situação do microondas, em que o vocalista e um taco de baseball dão um ritmo mais batido à música. Este foi um concerto impressionante.

Seguiram-se os Yeah Yeah Yeahs, que chegaram e começaram logo com a força toda. Karen O como estrela principal, sem sombra de dúvidas. Como seria de esperar, o concerto foi mais centrado no último álbum, mas ainda assim fizeram-se as naturais recuperações a Date With a Night, Maps e Y Control, repletos de gritos orgásmicos e gemidos sonoros, que caracterizaram o grande álbum que é Fever to Tell. Date With a Night foi um ponto digno de relevância no concerto, em que os gemidos da Karen puseram toda a gente a saltar e mesmo a gemer com ela. Claro que Gold Lion não passou ao lado de ninguém, sendo acompanhada com um “sing-along” de todo o público – o que é mais que compreensível, visto que muita gente só conheceu os Yeah Yeah Yeahs por esse single de Show Your Bones. Infelizmente, a falta de comunicação entre a banda e o publico levou o concerto um pouco à monotonia; nesse aspecto podia ter sido muito melhor. Ainda assim, foi super contangiante. O resto da banda também mostrou uma atitude muito rock e desinibida (claro que nunca como a nossa grande Karen) e contribui imensamente para o bom espectáculo. Aguardo um regresso destes senhores do rock, que bem que merecem a minha presença num concerto, novamente.

We Are Scientists fecharam a noite com um concerto muito mau. Eles chegaram mesmo a pedir desculpa, visto que não tinham culpa do grande concerto que Bloc Party deu. Nesse aspecto, dou-lhes toda a razão. A organização mudou a ordem do cartaz à última hora, pondo We Are Scientists como cabeça de cartaz, o que foi um grande erro. O sentido de humor da banda também não ajudou muito no concerto, o que levou as pessoas a abandonarem o anfiteatro para as tendas e para o palco Afterhours.

Broken Social Scene @ Paredes de Coura (dia 15)

Broken Social Scene foi o concerto de dia 15. Genericamente, pouco mais há a dizer sobre estes senhores e senhoras, que deram água pelas barbas a Morrissey e a todos os que actuaram antes. Quem acreditava que tanta gente em palco podia dificultar o espectáculo e as actuações, enganava-se redondamente. Os canadianos conseguem juntar o seu rock, com um toque da música clássica, com um pouco do blues que toda a gente gosta de ouvir, leve e de fundo e ainda com a sua atitude independente num espectáculo frenético, mas não sufocante. Envolve, mas não nos leva. É um concerto suave, por assim dizer. Apesar de tudo, muito enérgico.

Não há ninguém a realçar na banda, visto que todos foram excepcionais. Mas faço uma referência aos membros femininos do grupo, que mostraram uma atitude muito viva e até sensual, de uma forma muito pura e nada promíscua ou atrevida. Leslie Feist, com Anthem For a Seventeen Year Old Girl, acabou por assumir a banda de uma forma muito característica. A violinista mantinha uma postura muito própria e interessante, não deixando de se evidenciar a nível musical com o som do seu instrumento, que sobressaía às guitarras e aos sintetizadores tão comuns no rock.

Broken Social Scene foi um concerto muito vivo e sentido, tanto pela banda que afirmou sentir-se “como que em casa”, visto que em Toronto também há imensos portugueses, como pelo público em geral, que se deixou envolver pela sonoridade deles, que mesmo que não seja original, tem uma identidade muito própria que os distingue das restantes bandas de indie-rock actual.

Dia 15/08, Paredes de Coura

Dia 15, sem dúvida algo a não esquecer, nem que seja pelo facto de ser o primeiro dia do festival, propriamente dito. O jazz na relva, merece, sem sombra de dúvida um grande realce. Com uma onda de boa disposição e boa vontade tanto da audiência, como da banda de José Eduardo, a tarde foi mais rápida do que todos desejámos. Desde reinterpretações de músicas de José Afonso aos clássicos do jazz, foi uma tarde que marcou a todos presentes com um toque português muito interessante.

Por volta das 18h, abriu, finalmente, o recinto do festival. Começou o concerto de White Rose Movement. A banda britânica, cujo álbum foi produzido pelo mesmo senhor de Silent Alarm (Bloc Party) e Echoes (The Rapture), deu um concerto deveras interessante. Infelizmente, teve o grande handicap do concerto ser tão cedo; o público não estava muito receptivo ou simplesmente não estava. O recinto estava muito vazio e a audiência estática, ainda a esperar pelos próximos. Apesar de tudo o concerto foi muito enérgico e cheio de uma energia punk muito forte, ajudada pela batida mais electrónica da banda, que inclui no seu reportório de influências os lendários New Order. Alguns imprevistos durante o concerto, com microfones e guitarras, cortaram o baixo ritmo (não por culpa da banda, volto a referir) do concerto. Mas foi uma actuação arrogante, como nenhum punk não devia deixar de ser, e muito enérgica; no final, a simpatia que a banda não mostrou durante o concerto, para manter a postura, revelou-se. Seria um concerto interessante de ver com mais público e principalmente com um público predisposto.

Depois de uma breve pausa, tocaram os Gomez, sobre os quais tenho pouco a dizer. O concerto foi deveras muito monótono e menos enérgico do que seria, à partida, possível, mostrando-se bastante inferiores aos WRM, que haviam actuado anteriormente.

Os noruegueses Madrugada vieram, então, tentar a sua sorte. Foi um concerto interessante, e mais esperado pelo público, essencialmente. Com uma audiência mais selecta, muitos que se deslocaram até Paredes de Coura propositadamente para os ver, possibilitaram uma primeira meia-hora muito boa e viva. Infelizmente, acabou por se tornar um concerto monótono. A repetição de movimentos, principalmente por parte do vocalista, que deveria assumir uma posição mais viva e menos rotineira em palco, visto que é a inevitavelmente a imagem da banda, fez com que o concerto acabasse por perder qualidade. Mas realço, novamente, a primeira meia-hora do concerto, que foi, sem qualquer sombra de dúvida, algo de impressionante para quem nada esperava dos Madrugada.

Morrissey foi a grande desilusão da noite. O concerto mais aguardado foi uma quebra para os mais neutros – e uma alegria incondicional para quem estava lá exclusivamente para o ver (e não eram poucos) – que esperavam algo de melhor do pai do rock-alternativo. O seu carácter egocêntrico – tendo em conta que é uma estrela e um importantíssimo ícone da música, nem que seja por ter sido o vocalista dos The Smiths – criou um fosso muito grande entre a audiência, os músicos e ele mesmo. Havia uma grande distância entre ele e a banda, o que dava um carácter demasiado impessoal a um concerto de tamanha magnitude. Infelizmente, Morrissey pouco fez em termos de espectáculo, senão agitar o fio do microfone (que deu muitos problemas). Ainda assim, nem a chuva movia toda aquela gente para longe do palco.