domingo, agosto 10, 2008

Paredes de Coura #1

Dia 31 de Julho

O primeiro dia do festival começou a meio-gás com os portugueses Bunnyranch. Meio-gás porque, apesar de um concerto simpático, a banda esteve um pouco aquém daquilo a que tem habituado o público. A ajudar o tempo reduzido para a actuação e um novo single (que teria, obrigatoriamente, de fazer parte da setlist) mais parado, a actuação ficou-se por um bom aquecimento com espaço para um discurso patriótico de valorização da língua mãe – uma espécie de pedido de desculpas do líder da banda.

Os X-Wife seguiram-se no alinhamento do cartaz, mas não se contiveram. Entraram com tudo o que tinham e deram um concerto ideal para o anoitecer: uma actuação quente quando o tempo mais tendia a arrefecer. Tiveram, também, o prazer de levar a Raquel Ralha, dos Wraygunn, para o palco para fazer coros com mais três bons rapazes – o que praticamente anula o efeito da voz dela deixando só a sua aura para contemplação –, algo que merece a menção honrosa. X-Wife deram um concerto extremamente enérgico e provaram ser capazes de arrancar com um festival da melhor forma.

Os suecos assaltaram, então, o palco principal para uma actuação medíocre e chata. Os Mando Diao não trouxeram nada ao palco a não ser uma boa hipótese para jantar.

O festival aquecia novamente com a entrada em palco de uma banda com uma atitude mais roqueira e um som mais agressivo, apesar da voz suave da sua vocalista. The Bellrays deram um concerto muito dividido entre a sonoridade agressiva do Stoner cantado por uma voz Gospel e uma acalmia mais próxima do R‘n’B. Infelizmente, foi mesmo dividido: umas músicas mais stoner, outras mais R’n’B; não era nem carne nem peixe. Mas a verdade é que quando a banda vestia o cabedal e se preparava para as motas, o concerto ganhava uma vida fantástica que só mesmo aquela alternância podia matar. Não foi um mau concerto, mas também não foi bom. Digamos que a metade Stoner foi tão bem vinda que se fossem continuar assim podiam ter ficado para actuar o em ver dos Sex Pistols.

Sex Pistols que não iriam demorar muito a ocupar o palco e a mostrar uma coisa: Punk’s dead. A atitude enervante e niilista da banda vive de encenações e a sua música, que nunca foi agradável, nem mesmo agora que teve tempo de ser trabalhado (mas não foi), mostra-se impossível de aguentar durante hora e meia. Alguém me disse, um dia, que um concerto Punk nunca devia durar mais de 40 minutos, e isso já era um exagero. Os Sex Pistols teriam feito um favor a muitos dos presentes se tivessem feito as coisas dessa forma. Nem pelos fãs dava para perceber se o concerto estava a ser bom, visto que esses limitaram-se a insultar a banda, a tentar agredi-la e a esboçar invasões de palco. Um destaque, no entanto, para a consciência de Johnny Rotten que percebeu a possibilidade de fazer algo com o mediatismo do regresso e de poder transmitir mensagens políticas: de uma forma peculiar mostrou o óbvio (se deus existe é o mesmo para todos e que Bush está errado), e acabou por pecar e cair no ridículo pelo exagero a que submeteu essa faceta, ao perceber que ela pegava. Foi uma actuação histórica, mas não será para recordar pelas melhores razões. Há muito a apontar aos britânicos.

Como sempre, o fecho da noite ficou nas mãos do palco secundário, conhecido como After Hours. The Mae Shi fizeram de imediato as honras, ladrando, repetindo sons até à exaustão e gozando a sua música da melhor forma que conseguiram. Foi uma actuação no mínimo fritante e peculiar, mas indubitavelmente boa. Foi interessante verificar como uma banda tão jovem conseguia pegar nos elementos mais irritantes da música contemporânea e torná-los quase aceitáveis, experimentando tudo com eles. E se fosse só a música, o concerto não merecia esta atenção; a verdade é que a atitude em palco era efusiva e contagiante, pois ninguém parava, todos gritavam, todos aproveitavam o muito ou pouco que tinham a dar – mesmo que isso se resumisse ao ladrar mais grotesco de sempre ou à repetição de uma nota que mais fastio provocou nos últimos tempos. Destaco o final do concerto, que foi, pura e simplesmente, o baterista a tocar um ritmo sozinho durante uns bons cinco minutos até se decidir a parar e a abandonar o palco.

Este dia ficou-se-me por aqui e já valeu uma grande dor de cabeça, muito graças a Sex Pistols (raisospartam).

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