domingo, julho 13, 2008

Rage Against The Machine e outros tantos em Oeiras...

Peço, desde já, desculpa pelo silêncio. Depois de momentos tão felizes, foi necessário tempo de clausura para organizar ideias, daí tanto tempo sem que nada se dissesse.

Pegando no início do festival (do tal de Alive!08), um início fucking belo, temos de falar dos grandes Kalashnikov, que apareceram por entre uma nuvem roxa de fumo e deram início às hostilidades, com muita pinta e muito espírito bélico. E confesso que nunca tinha ouvido tanto "Fuck Tibete!" junto, nem "Africa!" e "War!" com tamanha alegria. Foi um concerto de genuína paixão pela arte da guerra, movido por uma sede de sangue a que Fernando Ribeiro, dos Moonspell, ajudou com uma participação em "Warriors of the Hezbollah". Um concerto mítico e violento.

Sabendo o que me esperava, aproveitei o concerto dos Galactic para fazer um reconhecimento do recinto e encher o depósito. Pelo meio lá parei um pouco em Spiritualized - algo que durou duas parcas músicas; foi até me aperceber que eles nem iam tirar os óculos de sol nem mexer os pés do chão - e visitei os Vampire Weekend. Estes últimos foram chatinhos - eu não gosto da sonoridade, algo que condiciona grandemente esta opinião. O público estava a adorar, e nesse sentido pareceu-me um concerto bom, com a tenda do palco secundário a abarrotar de gente feliz por ouvir o Rockzinho dos nova iorquinos. Não conseguirei concordar com as auto-descrições feitas, que defendem a influência da música africana na banda, porque isso é algo que mal se verifica (parafraseando o bom e muito nosso Tiago, "eles seguem a lógica do souvenir: vão a África, compram uma lembrança e levam para os ensaios para se sentirem inspirados"), o que faz dos Vampire Weekend mais uma banda fugaz do "alternativo-mediático". Apesar de ter sido um concerto com muita adesão, aposto que poucos se vão lembrar do que se passou ali...

A surpresa da noite, para mim, foi The National. Aquele que seria o concerto a ver motivado por mera curiosidade tornou-se num dos melhores da noite, com muita força, muita intensidade e uma tristeza imensa - de tal forma que Gogol Bordello me caiu mal com o jantar e eu tive de me sentar com a minha melancolia momentânea, só, abandonado pelo mundo e distante do palco principal. Ainda que a banda não se mostrasse muito viva em palco, Matt Berninger prestou uma boa actuação enquanto tinha o microfone na mão (pobre senhor, embriagado de todo, não sabia que fazer quando não estava a cantar, por isso vagueava solenemente, algo que até ajudou um bocado ao ambiente transmitido pela banda) arrecadando todas as luzes para a sua pessoa; mas verdade seja dita, não era de saltos que o concerto precisava, visto que a tristeza que rondava aquele palco só ia ficar chateada se alguém lá em cima se decidisse a correr de felicidade, ou algo semelhante. Disseram-me, em conversa, que "The National foi realmente muito bom... fiquei contente pelo concerto. Quer dizer, fiquei muito triste, mas gostei" - e não encontrei melhor resumo que esta opinião.

O concerto dos Hives foi, novamente, aproveitado para descansar os joanetes, já começava eu a imaginar o apocalipse a chegar em forma de concerto de Rage Against The Machine. Mas ainda vi um bom bocado para perceber o óbvio: continuam irritantemente convencidos e chatos, estupidamente enérgicos e com músicas muito Rock-Punk muito semelhantes ao que soavam no álbum. Esta pode ser uma boa forma de descrever um concerto dos Hives. Mas certamente que não é a melhor, porque resume-se a dizer o óbvio.


Rage Against The Machine

Mas chegou o momento dos momentos... passavam dez minutos da meia noite, e nervosismo de se sentir o aproximar do momento histórico do ano, com envergadura para apagar as actuações de Bob Dylan e de Neil Young juntas (é possível que esteja a exagerar, mas acreditem que levo esta afirmação muito seriamente), já percorria o público que se rendeu mal as sirenes anti-aéreas começaram a soar e a avisar do ataque revolucionário que se aproximava, enquanto a estrela vermelha sobre fundo negro subia lentamente. Mal Zach De La Rocha se apodera do microfone, toda a gente se apercebeu de que era verdade, de que estava a acontecer o que muito se esperava que acontecesse: "We are Rage Against The Machine, from Los Angeles, California", era a apresentação mítica, o início de sempre dos concertos destes senhores do Rock... "Testify" fez as honras para o gigantesco mosh pit de 40 mil pessoas, que não deu hipótese de ninguém cruzar os braços. Tinha começado o concerto do ano. De todos os vídeos que já vi de Rage Against The Machine (RATM), nunca vi o senhor De La Rocha a sorrir daquela forma, nunca vi um Tom Morello com tanta energia. Eles estavam imparáveis, e o público acompanhou-os.
Durante a "Sleep Now In The Fire", o senhor Tim (mais conhecido como 'o baixista') e o Brad Wilk fizeram a versão RATM de uma Jam Session, cheia de groove e de balanço, enquanto aguardavam para que os restantes membros do quarteto recuperassem o fôlego - e bem que precisavam, visto que sozinhos faziam a festa do palco -, e a grande "Know Your Enemy" ficou marcada pelo sing-along final, em que todos os presentes gritaram "all of which are american dreams" de uma forma assustadora. Teria sido um concerto só de pontos altos, não fosse a triste ovação que houve quando o Zack falou de um "irmão que nasceu em Portugal, mas que agora é de todo o mundo", mais conhecido como José Saramago - foi mesmo um momento triste: ele dedicou a "Freedom" ao senhor Saramago, como normalmente dedica a figuras importantes e, normalmente, de esquerda, e ouviu-se o mais triste e baixinho "yeaaah" de sempre, sob o olhar estupefacto do vocalista que traduzia um misto de "isto devia ter pegado..." e de "serão analfabetos", algo que não abonou a favor de ninguém.
Quando se fala de Rage Against The Machine, temos sempre em conta uma banda que se tornou mediática pelas piores razões - tendo em conta a lógica Pop -: foram presos por tocarem nus a "Fuck The Police", dos Public Enemy, em frente ao departamento de polícia de Los Angeles; organizaram debates sobre presos políticos; estiveram por detrás de manifestações que resultaram em muito sangue; e poderia continuar a lista, naturalmente. Tudo isso esteve implícito no concerto de dia 10. Foram tão corrosivos que apontaram no público os maiores defeitos da sociedade que criticam. Zach gritou bem alto, mas simplesmente para quem quisesse ouvir, "DON'T sleep now in the fire", "YOU got a bullet in the head", "and now YOU do what they told ya", sempre de sorriso irónico bem cravado na face e de dedo bem esticado para todos os presentes. Fizeram soar o hino da I Internacional durante a pausa que fizeram, deixaram sempre o Che Guevara no amplificador do Tom... Provaram que, apesar de não estarem preocupados com a composição de músicas novas (principalmente porque têm outros projectos em mente, nomeadamente One Day As A Lion e Nightwatchman), não precisam de novo material, pois tudo o que têm ainda é actual, ainda é real e ainda é aplicável na prática.
Este foi um concerto inesquecível, por imensas razões. Para pessoas como eu, que pensavam não ter nascido para ver Rage Agaisnt The Machine, foi a realização de um sonho de juventude; para quem não teve oportunidade de os ver em 1997, foi recuperar uma hipótese perdida; para quem já os tinha visto, quase que aposto que foi melhor do que o concerto que estava na memória e que este vai brilhar muito mais enquanto recordação. Tão marcante quanto uma revolução; pena é que muito desse ambiente revolucionário se tenha dissipado mal o concerto acabou, o que diz muito sobre a artificialidade do sentimento que se sentia no ar - e a culpa não é da banda, definitivamente.

4 comentários:

Ska disse...

Olha que Galactic não é mau. Para quem gosta de Funk, muito bom.

Quanto ao resto, nada a adicionar.

André Forte disse...

tentei não tecer opinião nenhuma em relação a eles. a coisa é que este festival não era o melhor para tentar conhecer bandas. no entanto, vou dar-lhes agora uma oportunidade e tentar ver o que perdi, visto que eu gosto bastante de funk.

Anónimo disse...

O dia 10 de Julho (e todos os outros...)no Oeiras Alive resumiu-se, tão somente, à já histórica actuação dos Rage Against The Machine. Tudo o resto foi a banda sonora enquanto a malta apanhava um solito, bebia uns finos ou comia umas bifanas.
Galactic, Spiritualized, Vampire Weekend, The National!?!? Haja decoro!!
A Revolução passou por Portugal.

André Forte disse...

:D

como viste pelo título deste post, eu não posso deixar de concordar contigo. mas sou uma pessoa simpática e não gosto de deixar ninguém de parte ^^ ahahahah.

Freedom \oo/