Depois da versão do André sobre a mítica "Super Quinta-Feira 10" cabe-me agora a vez de dar a minha visão sobre o meu primeiro dia de Alive!, aquele que na minha opinião foi sem dúvida alguma o mais grandioso de todos. E reparem que dado o cartaz deste ano do Alive! isso por si só já quer dizer muito. Feita a introdução aqui ficam umas sucintas linhas sobre o que vi:
Kalashnikov
A escolha para abrir o dia dificilmente poderia ter sido mais feliz. Rápidos, fortes, deram o mote para o dia da "Battle of Lisbon", cativando um público pronto a gritar as (não) letras da banda pioneira do "wartime rock" e a entrar num bom mosh, com pouca gente e muito espaço, como se exige.
Mosh desde o primeiro minuto, boa assistência dada a hora do concerto e duas bonitas "wall of death" dizem tudo. O que se perdeu em qualidade musical ganhou-se em diversão. Kalashnikov? "Oh yeah motherfucker"!
Sons of Albion
Quando uma banda é descrita como "a banda do filho de Robert Plant" algo está mal. E bastou ouvir metade do concerto para perceber porquê. Um som sensaborão, daqueles que só serviu mesmo para acompanhar a bela da fatia da pizza.
Spiritualized
Duas músicas chegaram. Num concerto não basta a música (que já por si, não me agrada particularmente). Para isso há cds, vinis, mp3, por aí fora. Convém também haver uma certa dinâmica que, ali, faltou de todo. Já vi defuntos com mais vivacidade.
Vampire Weekend
Cheguei já na recta final do concerto. A tenda estava à pinha, cantarolando alto e bom som as letras dos senhores do momento. Como o André explicou (mas mal) eu não sou grande fã da lógica do souvenir. Por souvenir entendo algo que é feito para quem é estranho a determinada realidade, que tem como intuito ser algo que genuinamente nos lembre de determinado local. Acontece que, no fim de contas, nada tem a ver com o espírito do que visitámos. É algo artificial. E, invariavelmente, sempre que ouço Vampire Weekend fico com a impressão de estar perante uma pop misturada com um souvenir de África. Assim se percebe a minha relutância em me dirigir até à Metro on Stage. Segundo consta, perdi um dos melhores concertos que passaram na tenda secundária. Dado que no outro palco estava uma banda de bidons talvez tivesse valido a pena vê-lo todo.
The National
Esta era uma das bandas que mais aguardava para este dia. Depois dos relatos do concerto da Aula Magna a expectativa era mais que muita. Porém punha-se a questão: seriam eles capazes de fazer de dia, horas antes de Rage Against the Machine, num palco principal, um concerto à altura? A resposta foi um inequívoco "sim". Matt Berninger, no seu estilo inconfundível, arrastou uma simpática multidão para uma contemplativa melancolia que só muito a custo se foi esbatendo com a prestação de Gogol Bordello. Quem cria tal intimidade num evento de massas merece, sem dúvida alguma, ser visto pelo menos uma vez em nome próprio. Um concerto absolutamente fantástico, capaz de apagar definitivamente o fantasma do Sudoeste do ano passado.
Gogol Bordello
Depois de The National vieram os Gogol Bordello. O seguimento não foi o mais feliz mas perdoa-se. Só mesmo um punk cigano meio tresloucado podia avivar as hostes depois de uns absurdamente bons The National. Foi um concerto bastante bem conseguido, uma verdadeira festa, que dificilmente terá deixado alguém indiferente. Não terá atingido o grau de miticidade do concerto de Paredes mas cumpriu bastante bem. Por muito que se desgoste da sua música a seco, a verdade é que em palco são verdadeiros demónios.
The Hives
Aos The Hives cabia a mais ingrata tarefa de todas: anteceder a banda que motivou a ida da maior parte ao Passeio Marítimo de Algés. Dado o facto de a grande maioria das pessoas que integrava as primeiras linhas do público se acotovelar para ganhar um espacinho para ver Rage só posso considerar como obra de pura mestria a forma como este concerto foi conduzido. Não sendo a música a melhor e antecedendo quem antecederam ainda hoje me questiono como conseguiram eles domar uma audiência tão adversa. Quanto à música nada há a dizer. Faz-me comichão no cabelo e lembra-me que a surdez às vezes pode ser uma bênção. Mas é inegável que Pelle Almqvist é um entertainer como há poucos e deu uma verdadeira lição de como interagir com o público, obra de antologia a ser estudada.
Rage Against the Machine
Quando as sirenes soam o calafrio é inevitável. A multidão entra em modo de combustão avançada, acotovelando-se até à exaustão. Berra-se a plenos pulmões, gritos indiscriminados, durante sete anos contidos. A estrela vermelha em fundo não deixava dúvidas: eram os Rage de sempre, com a entrada de sempre, o gérmen revolucionário que inspirou toda uma geração de inconformados, comunistas ou não. Começaram-se a sentir as ondas da mole humana, incontroláveis, movendo-nos para trás e para a frente como nunca vira. Finalmente, os primeiros acordes da Testify. Em questão de segundos forma-se um mosh monstruoso, algo épico, indiscritível. Todos gritam as letras como se a revolução disso dependesse. Ninguém está parado e o suor corre em bica, luta-se para não se cair, para não se ser pisado, faz-se das tripas coração. Perdem-se pessoas no meio da multidão, encontram-se outras. É certo desde início que neste é cada um por si. Uma viagem interna aos anos passados a ouvir Rage Against the Machine comungada por todos numa gigantesca manifestação de força.
A atitude da banda não deixou ninguém indiferente. Tom Morello, conhecido pela sua impenetrabilidade, perdeu o chapéu logo na primeira música e Zack de la Rocha mostrou o porquê de ser o profeta da revolução. Uma prestação explosiva, um daqueles concertos que queremos voltar a ver, vezes sem conta, uma e outra vez. Todos quanto estiveram presentes sabem que um concerto assim é, provavelmente, coisa de uma vez na vida. As t-shirts, camisas e chinelos sem dono no meio do chão são prova disso. Ficou bem claro que "The Battle of Lisbon" não era apenas um slogan.
Mosh desde o primeiro minuto, boa assistência dada a hora do concerto e duas bonitas "wall of death" dizem tudo. O que se perdeu em qualidade musical ganhou-se em diversão. Kalashnikov? "Oh yeah motherfucker"!
Sons of Albion
Quando uma banda é descrita como "a banda do filho de Robert Plant" algo está mal. E bastou ouvir metade do concerto para perceber porquê. Um som sensaborão, daqueles que só serviu mesmo para acompanhar a bela da fatia da pizza.
Spiritualized
Duas músicas chegaram. Num concerto não basta a música (que já por si, não me agrada particularmente). Para isso há cds, vinis, mp3, por aí fora. Convém também haver uma certa dinâmica que, ali, faltou de todo. Já vi defuntos com mais vivacidade.
Vampire Weekend
Cheguei já na recta final do concerto. A tenda estava à pinha, cantarolando alto e bom som as letras dos senhores do momento. Como o André explicou (mas mal) eu não sou grande fã da lógica do souvenir. Por souvenir entendo algo que é feito para quem é estranho a determinada realidade, que tem como intuito ser algo que genuinamente nos lembre de determinado local. Acontece que, no fim de contas, nada tem a ver com o espírito do que visitámos. É algo artificial. E, invariavelmente, sempre que ouço Vampire Weekend fico com a impressão de estar perante uma pop misturada com um souvenir de África. Assim se percebe a minha relutância em me dirigir até à Metro on Stage. Segundo consta, perdi um dos melhores concertos que passaram na tenda secundária. Dado que no outro palco estava uma banda de bidons talvez tivesse valido a pena vê-lo todo.
The National
Esta era uma das bandas que mais aguardava para este dia. Depois dos relatos do concerto da Aula Magna a expectativa era mais que muita. Porém punha-se a questão: seriam eles capazes de fazer de dia, horas antes de Rage Against the Machine, num palco principal, um concerto à altura? A resposta foi um inequívoco "sim". Matt Berninger, no seu estilo inconfundível, arrastou uma simpática multidão para uma contemplativa melancolia que só muito a custo se foi esbatendo com a prestação de Gogol Bordello. Quem cria tal intimidade num evento de massas merece, sem dúvida alguma, ser visto pelo menos uma vez em nome próprio. Um concerto absolutamente fantástico, capaz de apagar definitivamente o fantasma do Sudoeste do ano passado.
Gogol Bordello
Depois de The National vieram os Gogol Bordello. O seguimento não foi o mais feliz mas perdoa-se. Só mesmo um punk cigano meio tresloucado podia avivar as hostes depois de uns absurdamente bons The National. Foi um concerto bastante bem conseguido, uma verdadeira festa, que dificilmente terá deixado alguém indiferente. Não terá atingido o grau de miticidade do concerto de Paredes mas cumpriu bastante bem. Por muito que se desgoste da sua música a seco, a verdade é que em palco são verdadeiros demónios.
The Hives
Aos The Hives cabia a mais ingrata tarefa de todas: anteceder a banda que motivou a ida da maior parte ao Passeio Marítimo de Algés. Dado o facto de a grande maioria das pessoas que integrava as primeiras linhas do público se acotovelar para ganhar um espacinho para ver Rage só posso considerar como obra de pura mestria a forma como este concerto foi conduzido. Não sendo a música a melhor e antecedendo quem antecederam ainda hoje me questiono como conseguiram eles domar uma audiência tão adversa. Quanto à música nada há a dizer. Faz-me comichão no cabelo e lembra-me que a surdez às vezes pode ser uma bênção. Mas é inegável que Pelle Almqvist é um entertainer como há poucos e deu uma verdadeira lição de como interagir com o público, obra de antologia a ser estudada.
Rage Against the Machine
Quando as sirenes soam o calafrio é inevitável. A multidão entra em modo de combustão avançada, acotovelando-se até à exaustão. Berra-se a plenos pulmões, gritos indiscriminados, durante sete anos contidos. A estrela vermelha em fundo não deixava dúvidas: eram os Rage de sempre, com a entrada de sempre, o gérmen revolucionário que inspirou toda uma geração de inconformados, comunistas ou não. Começaram-se a sentir as ondas da mole humana, incontroláveis, movendo-nos para trás e para a frente como nunca vira. Finalmente, os primeiros acordes da Testify. Em questão de segundos forma-se um mosh monstruoso, algo épico, indiscritível. Todos gritam as letras como se a revolução disso dependesse. Ninguém está parado e o suor corre em bica, luta-se para não se cair, para não se ser pisado, faz-se das tripas coração. Perdem-se pessoas no meio da multidão, encontram-se outras. É certo desde início que neste é cada um por si. Uma viagem interna aos anos passados a ouvir Rage Against the Machine comungada por todos numa gigantesca manifestação de força.
A atitude da banda não deixou ninguém indiferente. Tom Morello, conhecido pela sua impenetrabilidade, perdeu o chapéu logo na primeira música e Zack de la Rocha mostrou o porquê de ser o profeta da revolução. Uma prestação explosiva, um daqueles concertos que queremos voltar a ver, vezes sem conta, uma e outra vez. Todos quanto estiveram presentes sabem que um concerto assim é, provavelmente, coisa de uma vez na vida. As t-shirts, camisas e chinelos sem dono no meio do chão são prova disso. Ficou bem claro que "The Battle of Lisbon" não era apenas um slogan.
13 comentários:
não foi mal, tiago. eu parafraseei e distorci para a minha opinião, nada de mais. se fosse citação era grave :P
ah, e eu fiquei indiferente a gogol bordello. e pelo que ouvi, sines foi ainda mais mítico do que paredes. esse eu gostava de ter visto...
Sim, já estava à espera que boicotasses Gogol.
boicote é uma palavra tão forte...
Tu é que és forte!
fraquinho...
Corroboro o que o Pita disse
Spiritualized é mesmo assim...
Acredito, mas odeio bandas com essa atitude. Ou falta dela para ser mais preciso. É a mesma coisa que os Interpol. Bons rapazes mas em palco tornam-se uma verdadeira seca
o quê?! não viste o concerto no coliseu! e também não estás a ter em conta a música. se os national andassem aos saltos quem ficava triste era eu; o mesmo com interpol, mas mais sério ainda, visto que a música deles é bem mais forte.
Aí é que está. Os The National não andam aos saltos mas têm atitude. Já os Interpol são estáticos. E não, não fui ao coliseu, mas o do SBSR irritou-me profundamente.
acho que estás a concentrar os Interpol na figura do vocalista: sim é estático. qualquer um do restantes membros não o é, e isso viu-se no SBSR, - prova disso foi a queda que o guitarrista deu, pois ele mexe-se de uma forma estranha, a meio de uma música - e continuo a defender que faz parte do aparato deles manter um low profile.
continuo a achar os national dependentes do vocalista, visto que os outros não se mexem, e os interpol o inverso.
e para dissertar mais sobre o assunto estamos a entrar em preferencias: eu conheço bem ambas as bandas, mas prefiro, claramente, Interpol. e naturalmente os concertos deles tocam-me mais, assim como a música. tu és um homem dos national, que se há-de fazer? vamos começar a discutir que o vermelho é melhor que o laranja?
Rage Against what?!
E eu a me guardar para a super sexta,12. Quer dizer, super só por causa de Gossip, pois não tocava mais ninguém neste dia.
também tinha neil young. não me importava nada de ter visto...
mas RATM era a BANDA deste festival, indubitavelmente.
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