sexta-feira, agosto 10, 2007

Sudoeste 07 - último dia

Já parte da família de mergulhadores...

Finalmente, o último dia do festival. Em comparação com os primeiros dias, este último esteve às moscas. Não por faltarem grandes nomes, pois alguns dos mais aguardados tocavam precisamente neste dia, mas provavelmente por se iniciar no dia a seguir mais uma semana de trabalho para grande parte dos presentes. À chegada ao recinto viam-se muitos fãs dos The Strokes, aguardando o concerto de um dos seus elementos Albert Hammond Jr., que iniciou o dia no palco principal. Mas no palco principal o nome mais esperado era, sem dúvida, os James. Regressados dum longo hiato coube-lhes a tarefa de mostrar que o título do seu mais recente lançamento – Fresh as a Daisy – não era puro marketing.
No palco mais pequeno, para uns o secundário e para outros, que dali não desandaram, os nomes mais aguardados eram os Of Montreal, Trail of Dead e, acima de tudo, The National. Os dois primeiros a estrearem-se em Portugal e os terceiros a regressarem depois de terem tocado há dois anos em Paredes de Coura. Apesar do cansaço, este dia ainda reservava concertos a figurar no top do Sudoeste 2007.

Com o seu (des)penteado e cara de desenho animado, Albert Hammond Jr., músico dos (pouco) exímios The Strokes, sobiu ao palco principal ainda o sol pairava naquele deserto alentejano. Reuniu uma pequena multidão e proporcionou-lhes, certamente, um concerto agradável. Já a mim, nem por isso. Mas confesso, apesar de tudo, que entre os The Strokes e o seu guitarrista a solo de Fender Stratocaster nipónica ao pescoço, venha de lá o segundo.
Seguiram-se os desinteressantes Razorlight, que na sua banalidade estrelada proporcionaram um concerto desinteressadamente chato. Entraram ao som dum tango repetidamente interrompido por uma batida poderosa em jeito de alerta para o que se seguiu. E o que se seguiu foi, nada mais nada menos, do que um tipo de branco, com umas calças apertadas a olhar com profundidade para as meninas da frente, sem descoser o seu ar sério e sentimental, enquanto soltava uma ventania morna do palco capaz de desarrumar o cabelo das adolescentes histéricas presentes. O guitarrista dava uns saltinhos tão tímidos que chegava a fazer lembrar o guitarrista do Avô Cantigas, comedido para não assustar as criancinhas. Até tenho medo de referir que tocaram uma música dos The Doors, pois ainda ficam tão tristes quanto eu fiquei.
Os Phoenix eu desconhecia e, como preciso de me alimentar para sobreviver, decidi ir jantar para poder estar em forma para a tempestade que se avizinhava no palco secundário. Mas, para não dizerem que não disse nada sobre eles, fica a nota de que o guitarrista parecia o Jack Sparrow do «Pirata das Caraíbas».
É difícil não ter ouvido pelo menos uma música de James, portanto, não poderiam ter começado o concerto de outra forma senão com um dos seus hits. Logo no início despacharam três das suas músicas mais conhecidas, “Born of Frustration”, “Tomorrow” e “Sit Down”, garantindo assim uma grande actuação, acompanhada desde o início por palmas e pelo coro de vozes da maior multidão da noite. O simpático e carismático Tim Booth mostrou como os James ainda sentem o que tocam, totalmente inebriado pela música e perdido em constantes espasmos que o assaltavam numa espécie de transe. É bom, mas cada vez mais raro, ver um músico entregar-se com tanta alma à sua música, sentindo-a e transmitindo essa energia aos que assistem. Acabei por não assistir até ao fim, pois outro concerto que aguardava com ainda mais interesse estava prestes a começar no palco secundário. Mas não duvido que se assim continuou até ao fim terá sido um dos melhores concertos do festival.
Aos Babylon Circus coube a simbólica tarefa de encerrar o palco principal da edição 2007 do festival do Sudoeste. E, num palco por onde passou uma grande variedade de países e estilos musicais, o festival só podia encerrar num verdadeiro ambiente festivo, contagiados pela energia dos dez elementos que compunham este circo. Percorreram o palco de forma incansável, transbordando energia para a multidão, e percorreram uma misturada de estilos que foram desde o Punk/Rock, à musica cigana, ao Reggae ou até ao Jazz, fazendo lembrar outros nomes que por ali tinham passado nos dias anteriores. Infelizmente, não fiquei até ao fim mais uma vez, pois para mim o fim do festival estava programado para o «Planeta Sudoeste».

Aí comecei o dia com 2008, banda a que ainda pude assistir ao último acorde e à saída dos seus elementos do palco. Foi um número que vi algumas vezes neste festival e se era por aqui que a banda queria marcar a diferença não foi bem sucedida, pois teve uma saída perfeitamente banal, com umas palminhas dos presentes e com a retribuição do gesto agradecendo de forma simpática.
Por distracção, e com alguma pena minha, acabei por perder os Tara Perdida, uma espécie de Xutos & Pontapés do underground português. Mas pelo que ouvi dizer foi dos concertos a dar mais trabalho aos seguranças, descansadinhos durante todo o festival sem terem que aturar mosh’s ou stage divings. Diz quem viu, e não foram poucos, que foi um grande concerto.
Os primeiros estrangeiros da noite foram os Guillemots, projecto que desconhecia até então. Compostos por bateria, sopros, contrabaixo e um vocalista/ teclista com ar excêntrico, sentado no órgão num cadeirão de madeira, mostraram o seu Rock cheio de pedais de efeitos e barulhinhos electrónicos. Não deixaram grande recordação.
Aguardados por uma grande multidão e sob uma música épica, entraram em palco os estreantes Of Montreal, um projecto que me passava um pouco ao lado, e contínua a passar, mas que pelo menos passou a constar nas minhas memórias. Isto porque dão um concerto no mínimo original, cheio de elementos teatrais a recriar um ambiente meio surreal. Em palco, os elementos chamavam a atenção com as suas roupas excêntricas, estando o guitarrista vestido de anjo, o vocalista de voz irritante vestido a qualquer coisa que não deu para perceber bem o quê (com direito a mudança de roupa a meio do concerto) e o tipo da parte electrónica num traje que fazia lembrar “A Morte”. Durante o concerto iam entrando em palco algumas figuras estranhas, tais como uma Lagosta gigante, um espécie de ninja todo vestido de preto e com uma máscara brilhante a cobrir a face, ou um tipo de fato e gravata que entrou aos saltos no palco, tipo pandeireta da tuna académica, e acabou muito direitinho a ler o jornal sem chatear ninguém. Há que reconhecer que foi um dos momentos mais interessantes do dia, independentemente do som não me dizer nada.
O concerto da noite foi, sem dúvida, para os igualmente estreantes ...and You Will Know Us By the Trail of Dead. Surpreendentemente, foram poucos os que assistiram ao excelente concerto que esta banda facturou. Com momentos de uma intensidade inigualável neste festival, a contagiar de uma forma arrebatadora aqueles que sabiam o que podiam esperar e decidiram assistir ao concerto, os Trail of Dead deixaram no palco «Planeta Sudoeste» uma actuação poderosa para o qual muito contribuiu o uso de duas baterias em simultâneo em algumas músicas. Alguma das músicas dos álbuns mais recentes, e mais criticados pelos seus fãs, resultam de forma esplêndida ao vivo, ganhando outra dimensão com a alternância dos membros entre os diferentes instrumentos e com a riqueza que esse factor proporciona. Para mim, este discreto concerto que passou ao lado da maioria, foi uma das melhores prestações a registar nesta edição do festival Sudoeste.
Com os The National, a banda mais aguardada pela maioria dos presentes no palco secundário, dei por encerrado o festival. Já tinha ouvido falar muito bem desta banda ao vivo e sou apreciador dos seus trabalhos em Cd, mas considero que o burburinho que se gera em seu redor é, em grande medida, um hype. E o concerto, apesar de ter momentos interessantes pela força das suas músicas, ficou muito aquém das minhas expectativas, não só pela má qualidade do som mas também pelo estado do vocalista Matt Berninger, totalmente embriagado e quase aos tropeções pelo palco, chegando, a dada altura, a esquecer-se da letra de uma das músicas. Sem ter que cair no discurso do politicamente correcto e basear a minha opinião sobre o concerto apenas nestes factores, tenho que admitir que esta decadência não é propriamente o que procuro num concerto daqueles. Talvez por o tipo de som não se enquadrar com aquela imagem.
No entanto, ficou demonstrado que o público tem a capacidade de tornar um concerto atrapalhado num belo momento, com a capacidade que tem de se abstrair do cambaleante vocalista, acompanhando em coro a banda e sentindo intensamente cada música do concerto. Fico à espera que os The National voltem para um concerto à imagem daquilo que sempre ouvi deles e com a força que ainda conseguiram fazer passar numa escala menor, na sua plenitude.

Para mim, a edição de 2007 do Festival do Sudoeste terminou aqui. Despeço-me com um grande obrigado ao Stage-Diving pelo convite para partilhar este relato, esperando contribuir sempre que possível, e assumindo como da minha total responsabilidade qualquer coisa mais ofensiva que possa ter dito.

Até breve,
Diogo Duarte



Fica o registo do autor de um blogue que é regularmente acompanhado pela redacção do Stage Diving e que respeitamos imenso (tal como esperamos que nos respeite a nós...). Fica um enorme bem haja pelo trabalho e pelo divertimento que esta colaboração proporcinou. Podia dissertar sobre a experiência que foi esta parceria de sismos provocados pela energia da dança e do stage-diving, com a força da música, mas acho que é uma autêntica perda de tempo e, se nem eu me interesso por esse tipo de devaneios pseudo-intelectuais (quando eu próprio sou um pseudo-intelectualoide de corrida)...
Torna-se fácil de destacar como a música e a opinião político-social (seja ela corrosiva, partidária ou não, inteligente, anti-sei-lá-o-quê) fundamentada podem trabalhar juntas e, provavelmente, uma disperta interessa em alguém a partir da outra. Quem acompanha o Sismógrafo percebe que as suas temáticas rondam muito estas temáticas, ainda que fujam a correntes de pensamento que se observem no quotidiano de cada qual ou socialmente aceites. A cultura e o pensamento político devem trabalhar juntos, tanto por se tornarem mais acessíveis e inteligíveis, mas também porque a cultura faz parte do dia-a-dia de cada um e a política devia fazer também (não digo que votar seja bonita e essas coisas todas, deixo isso ao critério dos subjectivos; digo, sim, que o ser humano é político e as suas acções nesse sentido não se ficam pelo voto). O acto de compreender sobrepõe-se à simples observação; para compreender, todos os meios e pontos de vista constituem uma necessidade.

Agora, vamos procurar mais algumas colaborações... Parto em busca de alguém que tenha fotos e que esteja disposto a partilhá-las connosco.

Terminado este mergulho especial no mundo dos festivais, o stage deixa o contador de sismos para retomar o rumo que tem vindo a assumir.
Mais um grande obrigado ao Sismógrafo!

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