segunda-feira, agosto 13, 2007

Peter Gabriel, o percurso

Peter Gabriel - aproveitando as referências dirigidas no texto anterior - é um dos compositores de maior excelência, dinâmica e coragem dos últimos 40 anos. Este deixou os Genesis aquando do seu período aureo, precisamente depois de editado aquele que é unanimamente considerado o álbum de Rock Progressivo, The Lamb Lies Down On Broadway.

Abandonar uma banda quando esta assegura a vida e o sucesso requer audácia, algo que não faltou a este senhor que alegava ter esgotado o projecto. Infelizmente para os Genesis, a saída de Peter Gabriel resultou na confirmação das suas razões para abandonar o projecto, adquirindo um sabor a fatalidade: as composições da banda caíram na banalidade, perdendo todo o encanto teatral que só Peter Gabriel lhe atribuia e que levou consigo para os seus projectos a solo. Este encanto era o que distinguia os Genesis das demais bandas, que através de uma representação levavam a sua mensagem e a sua simbologia mais próximo do seu público, mesmo que através das maiores loucuras e das mais perigosas e singulares acrobacias (não me esqueço do vídeo que o meu pai me mostrou do vocalista da banda aparecer em palco metamorfoseado numa especie de casulo em ebulição e cheio de bolhas, para desaparecer pouco depois e regressar como um velho marreco para descrever e interpretar a grande "Music Box" de Nursery Crime; e ainda busco o vídeo em que Peter Gabriel, com um fato de insecto, sobrevoa - com a magia de um cabo - a plateia completamente rendida ao aparato e à sua notável e excelente banda sonora). No fim ficou aquele que vejo como o melhor baterista de todos os tempos, Phill Collins, a cantar e a fazer palhaçadas com uma pandeireta, deixando para trás o seu verdadeiro talento, isto é, tocar bateria, e a vivacidade que as letras de Gabriel tinham quando cantadas pelo próprio autor que lhes não desconhecia qualquer sinal de pontuação; a verdade é que nunca mais se conseguiu reproduzir essa característica. Mas, quer com Gabriel quer com Collins, os Genesis sempre foram a banda de Progressivo com as melhores vozes.

Após recusar a segurança de um futuro próspero, Peter Gabriel experimentou a solo. Cedo percebeu que toda a melodia pode ser rítmica com os estudos que desenvolveu na World Music. De um estilo completamente vanguardista, a sua descoberta musical começou a caminhar pelo tribalismo musical e pelo Soul. Apercebendo-se, finalmente da sua insignificância musical, começou a recorrer aos melhores músicos, e aos músicos certos para os seus objectivos, indo buscar o melhor de cada um. Se ouvirmos as mesmas músicas ao vivo, mas em fases diferentes, percebemos que a sonoridade está incrivelmente ligada à banda com que Gabriel tocava na altura. Esta era a negação do seu ego, que ainda diz ter sido demasiado na altura, em prol da riqueza das suas composições.
Esta realidade de Peter Gabriel é uma demonstração das suas capacidades, não enquanto músico de estúdio, mas sim enquanto bicho de palco. Não se percebe o génio dele pelos seus álbuns, mas sim pelos suas actuações - se quiserem adquirir algo dele, tentem os Live primeiro - tão teatralmente compostas e genialmente interpretadas, sem descurar de uma genuinidade que só aquele à vontade em palco permite.

Actualmente, após um longo percurso pela música tradiocinal mundial, Gabriel consumou o seu percurso musical, depois de mais de 30 anos. Mais uma vez, composições de uma excelência assustadora, maduras, com pormenores não seus, mas dos seus companheiros que só desta forma conseguiriam enriquecer ainda mais as melodias. Pessoalmente acho que Peter Gabriel se redescobriu num Avant-Garde, ainda com toques do que caracterizava os Genesis como banda única.

Ficam dois exemplos:

In your Eyes (há 13 anos atrás, com Manu Katche, actual baterista de Sting e um dos melhores percussionistas vivos)



Downside Up (há cerca de 6 anos, com a banda actual, dois vocalistas convidados - que creio serem os Cocteau Twins - e uma orquestra, reproduzindo a música de forma aproximada ao álbum OvO: The Millenium Show)

6 comentários:

vanessa disse...

Isto é o que acontece quando mando bitaques sem ler o blog todo.

Cá está a bio.

Obrigado André.

vanessa disse...

Isto é o que acontece quando mando bitaques sem ler o blog todo.

Cá está a bio.

Obrigado André.

André Forte disse...

mas está tão pequenina. não falei dos primeiros passos dele a solo, não falei dos seus primeiros interesses claros pela intervenção, não falei da forma genial deste terminar os concertos... faltam milhares de coisas!!!

António Pita disse...

Gosto mais da voz dos King Crimson e dos Mars Volta. Mas são gostos.

André Forte disse...

que raio de comparação, pah! :P
Mars Volta não existiram nos 60/70s!!!

e, de qualquer forma, temos de admitir que o teor das letras do Gabriel sempre foi muito mais denso que das demais bandas progressivas de então, comparável somente às letras do Ian Anderson de Jethro Tull. Depois era isso: tem uma voz super característica aliada a um conceito interpretativo muito mais encenado e teatral, e que fugia ao contexto das vozes polidas e normais, não se inserindo também nas vozes más/péssimas - o Phill também estava aqui, só que era muito mais exagerado a cantar.

É como digo: no que toca a interpretação - e cantar também é isso - as vocalizações de genesis até 74 é o melhor que alguma vez se encontro no progressivo.
Sobre os conceitos mais abstractos de voz bonita ou feia, melhor ou pior, etc., não me pronuncio porque aí, sim, é uma questão de gosto e enquadramento.

António Pita disse...

"Mas, quer com Gabriel quer com Collins, os Genesis sempre foram a banda de Progressivo com as melhores vozes."

Só me estava a pronunciar sobre palavras exactas. E dentro de um género que ainda hoje se mexe, que é o progressivo. Daí aqueles exemplos.

Depois há todas essas questões da interpretação quase cénica do texto em si, mas isso requeria mais estudo da minha parte para me pronunciar sobre isso.

E repara como este diálogo vai ser, infelizmente, apenas aproveitado por nós os dois, na medida em que a probabilidade de alguém ver este post do dia 13 de Agosto de 2007 é praticamente nula.