sábado, abril 05, 2008

Colleen @ TAGV, Coimbra


Apagam-se as luzes no Teatro Académico Gil Vicente e a senhora Cécile Schott entra, de forma calma e algo tímida, acompanhada pelo silêncio dos presentes. Depois de se descalçar, senta-se e pega no violoncelo: acabada a rotina de apertar o arco, de forma aparentemente insegura - ela conhece os seus instrumentos, não há razão para não estar segura - faz soar as primeiras notas. Compõe-se a primeira melodia do concerto, triste, simples, cujo o único factor de crescimento é a adição de mais uma corda, a sobreposição de outra nota; o pedal de loop, o característico pedal que faz a magia de Colleen, aguarda. Mas a primeira música não é menos mágica que as seguintes. Pelo contrário, foi a música que nos embalou na mística que rodeava a bonita Cécile e que se preparava para encher a sala. Quando parou o arco, fez-se silêncio: quem teria coragem para quebrá-lo?
Assim que agradeceu graciosamente, com um simples aceno, os sorrisos soltaram-se a acompanhar as palmas: estávamos todos a viver um sonho, caracterizado pela suave banda sonora de Colleen - e é essa a sua magia em palco.

Finalmente, o pedal de loop começa a funcionar, a fazer a diferença. A orquestra que é o projecto de Cécile Schott começa a fazer-se soar, ainda ninguém se tinha apercebido disso. Os sons sobrepõem-se, a música cresce; só quando vemos a silhueta mal iluminada em palco a ajoelhar-se, a aproximar-se dos aparelhos, largando os instrumentos enquanto a música continua, é que percebemos o que se passa: o maestro (que eu não sei pronunciar no feminino...) controla cada linha melódica, cada som, cada repetição. Cedo, experimentou a guitarra, o clarinete, espanta-espíritos e mesmo uma caixinha de música, e tudo fazia sentido; fechar os olhos era como que procurar entender o que se passava connosco, tentar ilustrar uma música contagiante e lindíssima.

O silêncio entra as músicas foi finalmente quebrado com um interrogação simples: no seu inglês carregado de sotaque francófono interpela o público com um tímido "conseguem ouvir a festa ao lado?". Sinceramente, não conseguia até ela me fazer reparar, estava noutro lado. Mas estava a tocar a música do '2001: Odisseia no Espaço' e ela insistiu com a sua razão: "vocês dançam estas coisas aqui?". Estava incomodada e com razão, mas isso não a impediu de continuar a encher a sala, e a roubar a outra música.
Infelizmente, a música da 'Queima do Colete' (a infame festa) acabou por prejudicar o concerto, já que a última música, segundo as explicações de Cécile, necessitava de um total silêncio - inexistente na sala. Ficou adiada para uma próxima; simpaticamente despediu-se, calçou-se e sorriu muito. O público respondeu da mesma forma e desistiu de pedir mais, resignado mas satisfeito. Ficaram muito boas recordações, da música de um sonho.

5 comentários:

Tiago Estêvão disse...

A mítica "Queima do Colete"... a festa em que não há nem queima nem colete.

Coitada da rapariga...

António Pita disse...

E o mais giro é que ninguém concorda com a cena do colete.

Mas seja feita justiça era uma festa banal (para além do facto de começar às 17) sendo o nome apenas temático. Nunca foi objectivo (penso eu) queimar nada. Eram só mais uns copos valentes.

Mas enfim, não percebo como há um concerto no TAGV e uma festa naqueles jardins no mesmo dia, em simultâneo.

Anónimo disse...

e diz-se "maestrina", André...só o apontamento.

André Forte disse...

agradecidíssimo, caro carreira :D

Anónimo disse...

Goooooooooood! Robin's back! Despite everything, Batman Rez couldn't live without him, hehehehehehe! Let's hope it'll be this way for a long while!