E digo "quase três horas" numa estimativa por defeito. Esteve lá perto, muito perto, com um Razzmatazz esgotado só para ver estes senhores.
As portas abriram pouco antes das 20h, entrámos e foi a natural espera dolorosa. Mas por volta das 21h, já o movimento em palco acalmara - quem rebentava em nervos era o público, que a qualquer sinal, fosse do que fosse, atingia temperatura de ebulição. No entanto, o momento esperado foi anunciado com uma música triunfalmente mexicana (era mexicana e soava a algo de triunfal, não peçam mais explicações).
A banda entra, instrumentos na mão, ruído, barulho, tudo sincronizadamente fora e começou realmente: "Roulette Dares", para assombrar uma plateia inteira. E é incrível como o Thomas Pridgen, dito baterista, conseguiu tocar a música igualzinha ao álbum; eu já tinha dificuldades em acreditar que o Theodore o conseguisse... Tocaram aquilo direitinho durante cinco minutos e depois os Mars Volta tomam conta do concerto, por assim dizer: um improviso incrível, em todos os aspectos, numa sessão de desconstrução da música que perdeu tudo e todos, preparando-nos para o que seguia: música, música e mais música. As partes que me chamaram a atenção nos 45 minutos que se seguiram levam-me a concluir que a banda passou ainda por uma grandiosa "Viscera Eyes", precisamente antes do Thomas ter um espasmo de genialidade e solar - mas de forma monumental - por cima de um simples loop até entrar na "Wax Simulacra".
Seguiu-se uma electrificante "Goliath", como que em jeito de introdução para a "Ouroborous", que ao vivo é incrível: um balanço com tanta intensidade, para não dizer mais, quanto a que se sente no álbum.
E a energia não se suspendeu até ao merecido momento de descanso, já lá iam as duas horas: a banda sai, ficam os guitarristas e o vocalista para presentear os espanhóis (que até nem eram assim tantos, visto que portugueses e italianos aos montes também estavam lá) com as belas Asilos Magdalena e Miranda. Eu acho que, por muito bom que o momento tenha sido, quebrou o ritmo da festa, dando a sensação de que foi inserido no alinhamento de forma algo abrupta, já que aquela continuidade ruidosa de música para música sessou em detrimento do acústico. Foi bom para os ouvidos, para a saúde da banda, ligeiramente chato para o concerto.
Mas não se perdeu muito: mal a banda regressa começa o solo de baixo da "Day Of The Baphomets" e pronto, arranca outra vez, durante mais 20 minutos, de forma alucinante e contagiosa até ao fim.
Claro que The Mars Volta estavam mais que vivos em palco, mais do que eu podia pensar ser possível a tocar música com a complexidade da deles. E falo de um palco inteiro, sem excepção; tudo ali em cima dançava (mais ou menos estranhamente), saltava, fazia coisas estranhas... Destaco, como mero exercício ilustrativo, duas situações: até chegar a parte acústica, o señor Cedric só parou quando deitou a sua barriga num banco que lhe servia de arremesso durante dois a três segundos; o mesmo señor subiu as colunas, gritou com o público, tocou-lhes, andou a fazer um pequeno número de trapézio numa das alas superiores do recinto. Fenomenal, em termos de atitude. No entanto, isso não valeu conversas com o público. Eles entraram, tocaram, interagiram, fizeram o que lhes competia, ainda aproveitaram o momento e foram-se embora. Não é antipatia, é profissionalismo. Aliás, o Omar, já no fim, regressou do backstage, depois de alguns segundos de descanso, para agradecer de forma calorosa à plateia, que também mereceu.
Instrumentalmente, foi, como seria de esperar, fenomenal, principalmente a "Tetragrammaton" e a "Aberinkula", em que a composição da banda, o seu poder de execução e o improviso que faz o concerto atingem uma excelência memorável - tão boa quanto a primeira vez que percebi que ia ser assim, bom, na primeira música. Também a voz é algo de impressionante: só falhou na "Drunkship of Lanterns", já depois de um cigarro fumado e outras tantas toneladas de fumo inalado. E, claro, tudo isto constrói um concerto que desmonta músicas para as moldar ao espírito de cada membro da banda - ainda que sob a liderança apertada do maestro Omar -, algo que se notou muito ao longo de cada Jam feita. Não me surpreende que alguém opine que talvez algumas destas Jams caíram no exagero. Mas é precisamente quando esse exagero começa a parecer existir, que eles o matam: houve solos feitos de melodia, como que uma reinterpretação da harmonia da música, uma alternativa perfeitamente viável ao que se ouve no álbum; houve um baterista a decidir matar monotonias - no ritmo, quem mandava era o baterista, não havia maestro para o balanço da música -; havia vida em palco. E, de qualquer forma, o Progressivo é caracterizado precisamente por ter essa vertente, quiçá mais chata, livre e insistente, no fundo. Eu, a banda e muito mais gente ficamos felizes por não se cingirem ao álbum e por decidirem explorar as suas vertentes. A isso chama-se música.
Naturalmente, um concerto assim só pode ser de uma densidade indescritível, composta por momentos em que se tem toda uma plateia a dançar ao som de uma melodia Rock com cheiro latino que são quebrados, do nada, por momentos de puro Drone, em que somos absorvidos pelos trinta e quatro mil e quinhentos e sessenta e um efeitos e sons que eles conseguem reproduzir, tanto através das guitarras, como do baixo ou da voz. Mesmo quando os momentos mais introspectivos começavam a acelerar para um momento mais Jazz, era algo de inesperado, a que não sabemos como reagir. Se vamos para o concerto dos Mars Volta a pensar que se conhece banda, vamos sair de lá surpreendidos, pois não há como prever de que forma é que eles vão tocar seja que música for. E é por isso que digo que, para três horas de concerto em moldes deste género, era bem pensado darem cadeiras à entrada.
Deixemo-nos de conversa. Deixo-vos o alinhamento do concerto:
Roulette Dares (The Haunt Of)
Viscera Eyes
Wax Simulacra
Goliath
Ouroborous
Tetragrammaton
Agadez
Cygnus, Vismund Cygnus
Aberinkula
Asilos Magdalena
Miranda
Day Of The Baphomets
No fundo, e como podem ver, foram três horas de tudo o que The Mars Volta já fez. Passaram pelos quatro álbuns, improvisaram muito e com classe e satisfizeram um desejo que já me assaltava desde que contactei com o seu trabalho: no fundo, foi um momento de música perfeito para qualquer ser humano sensível.
Fotografias e, quem sabe, alguns filmes serão publicados nos dias que se seguem.
Modificação de última hora: a música mexicana afinal é italiana, chamada "A Fistful of Dolares", do senhor Morricone.
As portas abriram pouco antes das 20h, entrámos e foi a natural espera dolorosa. Mas por volta das 21h, já o movimento em palco acalmara - quem rebentava em nervos era o público, que a qualquer sinal, fosse do que fosse, atingia temperatura de ebulição. No entanto, o momento esperado foi anunciado com uma música triunfalmente mexicana (era mexicana e soava a algo de triunfal, não peçam mais explicações).
A banda entra, instrumentos na mão, ruído, barulho, tudo sincronizadamente fora e começou realmente: "Roulette Dares", para assombrar uma plateia inteira. E é incrível como o Thomas Pridgen, dito baterista, conseguiu tocar a música igualzinha ao álbum; eu já tinha dificuldades em acreditar que o Theodore o conseguisse... Tocaram aquilo direitinho durante cinco minutos e depois os Mars Volta tomam conta do concerto, por assim dizer: um improviso incrível, em todos os aspectos, numa sessão de desconstrução da música que perdeu tudo e todos, preparando-nos para o que seguia: música, música e mais música. As partes que me chamaram a atenção nos 45 minutos que se seguiram levam-me a concluir que a banda passou ainda por uma grandiosa "Viscera Eyes", precisamente antes do Thomas ter um espasmo de genialidade e solar - mas de forma monumental - por cima de um simples loop até entrar na "Wax Simulacra".
Seguiu-se uma electrificante "Goliath", como que em jeito de introdução para a "Ouroborous", que ao vivo é incrível: um balanço com tanta intensidade, para não dizer mais, quanto a que se sente no álbum.
E a energia não se suspendeu até ao merecido momento de descanso, já lá iam as duas horas: a banda sai, ficam os guitarristas e o vocalista para presentear os espanhóis (que até nem eram assim tantos, visto que portugueses e italianos aos montes também estavam lá) com as belas Asilos Magdalena e Miranda. Eu acho que, por muito bom que o momento tenha sido, quebrou o ritmo da festa, dando a sensação de que foi inserido no alinhamento de forma algo abrupta, já que aquela continuidade ruidosa de música para música sessou em detrimento do acústico. Foi bom para os ouvidos, para a saúde da banda, ligeiramente chato para o concerto.
Mas não se perdeu muito: mal a banda regressa começa o solo de baixo da "Day Of The Baphomets" e pronto, arranca outra vez, durante mais 20 minutos, de forma alucinante e contagiosa até ao fim.
Claro que The Mars Volta estavam mais que vivos em palco, mais do que eu podia pensar ser possível a tocar música com a complexidade da deles. E falo de um palco inteiro, sem excepção; tudo ali em cima dançava (mais ou menos estranhamente), saltava, fazia coisas estranhas... Destaco, como mero exercício ilustrativo, duas situações: até chegar a parte acústica, o señor Cedric só parou quando deitou a sua barriga num banco que lhe servia de arremesso durante dois a três segundos; o mesmo señor subiu as colunas, gritou com o público, tocou-lhes, andou a fazer um pequeno número de trapézio numa das alas superiores do recinto. Fenomenal, em termos de atitude. No entanto, isso não valeu conversas com o público. Eles entraram, tocaram, interagiram, fizeram o que lhes competia, ainda aproveitaram o momento e foram-se embora. Não é antipatia, é profissionalismo. Aliás, o Omar, já no fim, regressou do backstage, depois de alguns segundos de descanso, para agradecer de forma calorosa à plateia, que também mereceu.
Instrumentalmente, foi, como seria de esperar, fenomenal, principalmente a "Tetragrammaton" e a "Aberinkula", em que a composição da banda, o seu poder de execução e o improviso que faz o concerto atingem uma excelência memorável - tão boa quanto a primeira vez que percebi que ia ser assim, bom, na primeira música. Também a voz é algo de impressionante: só falhou na "Drunkship of Lanterns", já depois de um cigarro fumado e outras tantas toneladas de fumo inalado. E, claro, tudo isto constrói um concerto que desmonta músicas para as moldar ao espírito de cada membro da banda - ainda que sob a liderança apertada do maestro Omar -, algo que se notou muito ao longo de cada Jam feita. Não me surpreende que alguém opine que talvez algumas destas Jams caíram no exagero. Mas é precisamente quando esse exagero começa a parecer existir, que eles o matam: houve solos feitos de melodia, como que uma reinterpretação da harmonia da música, uma alternativa perfeitamente viável ao que se ouve no álbum; houve um baterista a decidir matar monotonias - no ritmo, quem mandava era o baterista, não havia maestro para o balanço da música -; havia vida em palco. E, de qualquer forma, o Progressivo é caracterizado precisamente por ter essa vertente, quiçá mais chata, livre e insistente, no fundo. Eu, a banda e muito mais gente ficamos felizes por não se cingirem ao álbum e por decidirem explorar as suas vertentes. A isso chama-se música.
Naturalmente, um concerto assim só pode ser de uma densidade indescritível, composta por momentos em que se tem toda uma plateia a dançar ao som de uma melodia Rock com cheiro latino que são quebrados, do nada, por momentos de puro Drone, em que somos absorvidos pelos trinta e quatro mil e quinhentos e sessenta e um efeitos e sons que eles conseguem reproduzir, tanto através das guitarras, como do baixo ou da voz. Mesmo quando os momentos mais introspectivos começavam a acelerar para um momento mais Jazz, era algo de inesperado, a que não sabemos como reagir. Se vamos para o concerto dos Mars Volta a pensar que se conhece banda, vamos sair de lá surpreendidos, pois não há como prever de que forma é que eles vão tocar seja que música for. E é por isso que digo que, para três horas de concerto em moldes deste género, era bem pensado darem cadeiras à entrada.
Deixemo-nos de conversa. Deixo-vos o alinhamento do concerto:
Roulette Dares (The Haunt Of)
Viscera Eyes
Wax Simulacra
Goliath
Ouroborous
Tetragrammaton
Agadez
Cygnus, Vismund Cygnus
Aberinkula
Asilos Magdalena
Miranda
Day Of The Baphomets
No fundo, e como podem ver, foram três horas de tudo o que The Mars Volta já fez. Passaram pelos quatro álbuns, improvisaram muito e com classe e satisfizeram um desejo que já me assaltava desde que contactei com o seu trabalho: no fundo, foi um momento de música perfeito para qualquer ser humano sensível.
Fotografias e, quem sabe, alguns filmes serão publicados nos dias que se seguem.
Modificação de última hora: a música mexicana afinal é italiana, chamada "A Fistful of Dolares", do senhor Morricone.
14 comentários:
Nem vou falar do concerto, porque para mim foi indiscritivel.
BTW a música não é mexicana, é italiana. Do Morricone, chama-se A Fistful of Dolares.
Bom para quem atravessou na diagonal o recinto só digo isto:
o thomas é do diabo porque mesmo quando o Omar estava a solar na boa foi ele que não deixou o publico assentar e por isso fui esmagada por espanhois.
Mas esquecem-se do senhor do sopro e de todos os demais instrumentos, o Sr. Terrazas, que esteve on fire e touxe todos os ritmos ao de cima, em prefeita sincronia com tudo o que o Alfredo estava a fazer.
Mas claro o Thomas roubou tudo e todos, espero que tenha curtido o resto da noite se o Ikey não foi um agarrado de 1a e não tenha oferecido o presente dos fãs portugueses. ehehehehe
para mim, aquilo é mexicano. mexicano ao ponto de parecer que estávamos que no texas...
mas pensando bem, os western spagheti...
e eu não me esqueci de ninguém, relembro é que há mais gente para depositar a sua opinião e que o meu texto já estão grande o suficiente para ser ilegível. eheh
caro antónio, nem comigo a pedir encarecidamente para que não exigissem mais informações sobre a música mexicana de itália...
eu aqui a trabalhar no duro, pah.
Morricone no inicio de um concerto é sempre um bom presságio. É como um bom genérico antes de um bom filme
Boa review, eu tive lá. Concordo apenas que faltou o realce aos sopros. Cum catano, haja desbunda aí..
O Thomas Pridgen deve ter tb é um terceiro braço ali escondido, porque nao percebo como é que o gajo conseguia fazer certas malhas
É verdade que os sopros estiveram incríveis, não só a nível instrumental, nos solos, etc, como a nível de execução geral, já que o homem trocava de instrumente como quem troca de peúgas. Foi mesmo muito bom. Mas também acho que instrumentalmente foi tudo excelente, são todos músicos fenomenais.
E o terceiro braço acho que se chama pé. Ele usa dois pedais para o bombo. Ele deve é ter outro pé escondido, que ele ainda consegue usar os pratos de choque, não imagino como...
Sabes que o Cedric num destes concertos fez questão de mostrar UM pedal no bombo do Thomas...Só para que coiso...
Eu não consigo fazer review pá. Não me sai nada quando penso naquele concerto a não ser um GoliiiAaath.
Goliiiaaath!!!!!
Acredita antonio, a unica "review" que se pode fazer em relaçao aquele concerto é a nivel tecnico, porque so quem ja viu um concerto dos The Mars Volta pode sentir seja la o que for que nos sentimos.
Digo eu, porque falar deste concerto em particular é mesmo muito complicado.
Mas sempre no bom sentido claro!
EHEHEH.....
está bem, pode ter mostrado um pedal, mas ele ou usa dois, ou usa efeitos. se reparares, no letterman, ele usa dois pedais. há ainda outro vídeo na net, ele e o tony royster jr a tocarem, e dá para reparar nisso.
de qualquer forma, se ele só usa um pedal agora, usa efeitos, o que torna a coisa tão ou mais incrível, porque para atinar com os tempos de um bicho desses é um pincel.
caso estas hipoteses estejam erradas, ele é um ET. hipótese que não excluo, no fundo... quem toca assim tão tem reumático.
Hm... mas há alturas em que tu "OUVES" o pedal duplo (eu pelo menos), mas olhas para o prato de choques e ele está aos saltos. E não é por ter caído ao chão 3 ou 4 vezes.
Aproveito para dar os parabens pelo blog ;)
é sobre esse tipo de magia que eu falava, quando está lá o som de dois bombos e o raio dos pratos de choque andam aos saltos... ele come qualquer coisa que nós não comemos. há técnicas para manter um som de pedal duplo, mas dúvido que alguém o consiga fazer durnte tanto tempo... mas e daí, o homem é uma máquina.
obrigado ^^ continua voltar e a opinar - o blog serve para isso-, que serás sempre bem-vindo ;)
Deixem-me sonhar. Eu também ouço o tal pedal duplo, mas gostava mesmo de acreditar que não o é. Vá lá...Deixem-me ter essa bonita fantasia que ele é um animalzão!
Faço minhas as palavras do André =)
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