Num trabalho tão natural dos Mão Morta - heterogeneo dos restantes, partindo sempre das melhores poesias que se escrevem na língua portuguesa -, primavera de destroços retrata-nos um jardim sem brilho, humano e nosso. Quem não viu a morte a "vaguear por entre as ruínas e o trânsito do fim da tarde"? O mais impressionante, para além da sensação de rotinas a partir, é o carácter visionário que as músicas contêm, que já respiram os ares de Post-Rock que ainda invadem Portugal.
Instrumentalmente, toda a música é característica, perfeitamente adequada às letras - que são, e sempre foram, a principal preocupação da banda, já que todos os álbuns são construídos a partir delas - e reflexo de cada ideia, intensificadores autênticos dos sentimentos e sensações transmitidos na poesia de Adolfo Luxúria Canibal. Cada guitarra, cada solo, os baixos, as baterias e a própria electrónica da produção estão perfeitamente tecidas numa peça uniforme e única. Destaco, por exemplo, o baixo da "Tu Disseste". Musicalmente, é uma agressão ao que se ensina e o que se ouve normalmente: é um baixo sem o dito groove que apetece dá o balanço à música e a necessidade de nos movimentarmos com ela - dá-nos, antes, vontade de tropeçar - e é quase anti-musical, esquecendo o ritmo natural da canção; a realiadde é que se enquadra na perfeição do todo e acompanha de uma forma subliminar a voz cavernosa de Adolfo, adicionando um carácter de diáogo ao resto da melodia. Igualmente fantástico é o solo de guitarra de "Arrastando o seu cadáver", que nos transmite, através de notas dissonantes e desafinadas, a agonia reflectida no poema; e não se distancia da restante composição, complementa-a com excelência.
Das letras, há tanta coisa a dizer e tão poucas maneiras correctas de as descrever que considero imperativo lê-las, ouvi-las acima de tudo, para compreender a complexidade que carrega. As letras são a descrição de uma realidade suja e imunda, humanamente normal.
Não considero este álbum a obra-prima dos Mão Morta; considero-o uma das obras-primas dos bracarenses que tanto deram e ainda dão à realidade musical portuguesa, reinventando e quebrando as repetições (a grande prova disso é a interpretação dos Cantos de Maldoror, uma obra literário de uma complexidade da escrita, da mensagem e das ideias memorável e revolucionária). Considero a primavera de destroços como o trabalho dos Mão Morta que mais me agrada musicalmente, que me soa mais maduro, evoluído e complexo. Noutros níveis, serão outros álbuns que ocupam o lugar de "melhor", naturalmente.
Acho que primavera de destroços é um marco para a música portuguesa e um álbum a ter em conta. Façam o favor (a vocês mesmos) de o ouvir.
Instrumentalmente, toda a música é característica, perfeitamente adequada às letras - que são, e sempre foram, a principal preocupação da banda, já que todos os álbuns são construídos a partir delas - e reflexo de cada ideia, intensificadores autênticos dos sentimentos e sensações transmitidos na poesia de Adolfo Luxúria Canibal. Cada guitarra, cada solo, os baixos, as baterias e a própria electrónica da produção estão perfeitamente tecidas numa peça uniforme e única. Destaco, por exemplo, o baixo da "Tu Disseste". Musicalmente, é uma agressão ao que se ensina e o que se ouve normalmente: é um baixo sem o dito groove que apetece dá o balanço à música e a necessidade de nos movimentarmos com ela - dá-nos, antes, vontade de tropeçar - e é quase anti-musical, esquecendo o ritmo natural da canção; a realiadde é que se enquadra na perfeição do todo e acompanha de uma forma subliminar a voz cavernosa de Adolfo, adicionando um carácter de diáogo ao resto da melodia. Igualmente fantástico é o solo de guitarra de "Arrastando o seu cadáver", que nos transmite, através de notas dissonantes e desafinadas, a agonia reflectida no poema; e não se distancia da restante composição, complementa-a com excelência.
Das letras, há tanta coisa a dizer e tão poucas maneiras correctas de as descrever que considero imperativo lê-las, ouvi-las acima de tudo, para compreender a complexidade que carrega. As letras são a descrição de uma realidade suja e imunda, humanamente normal.
Não considero este álbum a obra-prima dos Mão Morta; considero-o uma das obras-primas dos bracarenses que tanto deram e ainda dão à realidade musical portuguesa, reinventando e quebrando as repetições (a grande prova disso é a interpretação dos Cantos de Maldoror, uma obra literário de uma complexidade da escrita, da mensagem e das ideias memorável e revolucionária). Considero a primavera de destroços como o trabalho dos Mão Morta que mais me agrada musicalmente, que me soa mais maduro, evoluído e complexo. Noutros níveis, serão outros álbuns que ocupam o lugar de "melhor", naturalmente.
Acho que primavera de destroços é um marco para a música portuguesa e um álbum a ter em conta. Façam o favor (a vocês mesmos) de o ouvir.
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