Depois de 40 anos, são tão falados os reis do Psicadélico e vistos como a "banda mais visionária" (citando uma revista de renome, mas de qualidade duvidosa). Pena que as referências feitas sejam em relação ao primeiro álbum, que há-de começar a ser ouvido agora, graças à sua reedição, e aos Pink Floyd pós-The Dark Side of The Moon. Este trabalho é o apogeu musical da banda, um álbum extremamente produzido e limado como só eles o conseguiriam fazer: até ao mais pequeno pormenor que seria esquecido por outrém, mas que assim que é mexido dá o toque psicadélico.
Com efeito, é esquecida a fase que chutou e possibilitou tudo isso. E não me refiro a Wish You Were Here, que veio como sucessor obrigatório de The Dark Side of The Moon e talvez não devesse ser colocado num patamar tão exagerado. Não digo que não é um patamar meritório, mas em relação aqueles que são os melhores trabalhos da banda, talvez seja exagerado - ou então os restantes são muito subestimados.
Quando falo dos melhores trabalhos dos britânicos, refiro-me principalmente a Meddle. Seis faixas chegam para mostrar a genialidade da banda que mais contribuíu para o Rock que se seguiu, reinventando os seus conceitos - e não visionando os que viriam, já que foram eles os pais do Psicadélico e uns dos principais contribuidores para o arranque do Progressivo, a par dos Beatles. Meddle começa logo com "One Of These Days", uma das músicas com mais força e balanço que já ouvi dos Pink Floyd, e com todos os efeitos que dão a sonoridade de 'fritanço' à música: baixos e delays, vozes distorcidas, baterias extremamente compassadas e um culminar de juntar tudo aos solos de guitarra de Gilmour. Depois, todo o álbum descreve um caminho introspectivo e intimista - a verdadeira face da psicose é, sem sombra de dúvida, o interior do ser humano e as suas sensações, pelo que as duas músicas que seguem são puras ressacas para a cabeça das pessoas e não deixam de carregar a calma e a melodia que desde sempre veio com os ditos "visionários"; "A Pillow of Winds" e "Fearless" deixam qualquer um pensativo.
"San Tropez" ainda se enquadra no intímo, mas é quase folclórico e descomprometido, um descanso para a alma, com o piano quase frio e ritmico que caracteriza a música negra a perder-se num solo extremamente bem conseguido. Em "Seamus" acontece o impossível: um cão cantar o blues e cantá-lo extremamente bem, na música e bem enquadrado (haverá mais psicadélico?).
Mas o topo de todo este trabalho vem em "Echoes", uma música rica em tudo o que Pink Floyd já fez, senão mesmo a mais rica. Aquilo que carrega é indiscritível: um começo introspectivo e completamente frito, arranca para o balanço todo que é possível na melodia e solos psicadélicos e fenomenalmente conseguidos. E tudo parece abrandar em mil ecos; parece que ouvimos muita coisa a acontecer nos sons surreais que os britânicos nos trazem. Repentinamente, quebra-se isso com um riff de guitarra e é um reset que se faz para o fim daquela que é a melhor música da banda que mais portas abriu para o Rock.
Meddle, de 1971, é o culminar de um percurso desenhado pelos Pink Floyd desde o álbum Ummagumma (onde participou pela última vez Syd Barret) de 1969 e que permitiu à banda atingir o topo das suas composições na sua obra máxima: The Dark Side of The Moon. É essencial conhecer esta verdadeira obra-prima para compreender o exlibris que os Pink Floyd atingiram após a sua composição. Graças ao seu carácter mais humanizado, este trabalho dos pais do psicadélico soa muito mais orgânico e puro, algo diferente, mas sempre Psicadélico e, acima de tudo, sempre Pink Floyd - senão o mais Pink Floyd de sempre.
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