Os rapazes de Sheffield apresentaram-se no passado dia 18 de Julho pela segunda vez em terras lusas para apresentar o seu novo album intitulado Favourite Worst Nightmare. Desta vez tiveram direito a uma sala de maior e melhor, Coliseu dos Recreios, e a uma banda de abertura novamente portuguesa, os X-Wife. Esperava-se um concerto de altas proporções, visto que, se no ano passado os Arctic Monkeys foram protagonistas de um enorme hype da música britânica, este ano conseguiram a proeza de dar seguimento a esse hype, embora numa onda mais comercial e apesar do novo trabalho ser (consideravelmente, na minha opinião) inferior ao primeiro.
Antes de falar propriamente sobre o concerto, vou começar por apontar alguns defeitos que fizeram deste concerto único (!) pela maneira como o condicionaram fortemente.
Pela primeira vez num concerto, e posso dizer que tenho uma certa rodagem nesta matéria, senti-me apertado na fila para entrar para o Coliseu. De facto, so faltava mesmo haver mosh e crowd-surfing no amontoado de pessoas nos corredores que dão acesso às escadas do Coliseu. Aliás, senti-me rodeado de imbecis que estavam, não à espera de um concerto, mas num estádio de futebol com o comportamento mais animalesco possível.
Para além disso, quando é que os concertos viraram infantário? É que ninguém me disse nada e senti-me meio deslocado no meio daquilo tudo...
Mas isto seria o menos. O pior foi esta concentração de doentes mentais ter-me estragado grande parte de ambos os concertos. Em X-Wife, tornou-se impossível respirar, já que 90% das pessoas presentes (e digo isto com bastante certeza) não conhecia minimamente a banda, (nao querendo dizer com isto que deviam conhecer, afinal de contas era um concerto de Arctic Monkeys) e adoptaram a postura “epá nao conheço isto, mas é fixe para andar aos empurrões e aos pontapés”.
Em Arctic Monkeys esta gentalha adoptou novamente a mesma técnica, mas desta vez de forma mais agressiva. Atenção que eu não sou contra um belo mosh e o ocasional crowd-surfing, principalmente quando a música nos envolve de maneira de tal forma intensa que se torna impossível estar parado, agora fazer da plateia um campo de batalha digno de um concerto de heavy metal nao me parece apropriado num concerto destes. Felizmente a resistência fisica das pessoas da faixa etaria 12-16 anos nao é a melhor, e, portanto, la para o meio do concerto já se pôde apreciar a música em condições.
X-Wife
A banda portuense teve a tarefa que no ano passado coube aos lisboetas The Vicious Five, que abriram o concerto dos Arctic Monkeys no Paradise Garage. A qualidade do som não foi a melhor, mas a música esteve longe de imperceptível.
Durante cerca de meia hora, a banda de João Vieira deu um concerto de grande qualidade, cheio de energia, equiparável à sua excelente actuação no ainda recente Super Bock Super Rock. A destacar os temas Brigh Lights Big City, Rockin'Rio, Eno, When The Lights Turn Off, Taking Control e Ping-Pong. Fica a vontade de os ver num concerto só deles, com público adequado.
Arctic Monkeys
Após os X-Wife terem saído, não demorou muito até a banda britânica aparecer: o soundcheck foi rápido e o palco e luzes já estavam montados desde o início do concerto da banda portuguesa.
Esperava-se um concerto mais centrado no último album, mas os Arctic Monkeys brindaram o público português com uma setlist bastante acima das expectativas de muitos fãs.
Abrindo com The View From The Afternoon, assim como tinham feito no ano passado, puseram a multidão do Coliseu em alvoroço. A libertação de energia foi de tal forma intensa que algumas pessoas se viram forçadas a abandonar o Coliseu (!), já que não aguentavam o calor e agitação que se faziam notar na plateia.
Alex Turner mostrou-se, novamente, bastante profissional, assim como os restantes membros da banda, comunicando de forma curta, mas eficaz, “it's great to be playing for such a fine audience here tonight”. Uma das novidades do novo album e deste concerto foi o novo baixista, Nick O'Malley, que veio substituir Andy Nicholson, cujo ultimo concerto com a banda foi, precisamente, o ano passado em Portugal. Quanto à actuação ao vivo, o novo baixista pareceu um pouco deslocado da banda, como se ainda fosse aquele baixista de recurso logo após a perda de Nicholson. No entanto, a qualidade do baixo da banda melhorou significativamente com este novo membro, o que foi notório no novo album e no concerto no Coliseu.
A banda mostrou-se mais madura e mais profissional, largando a faceta de “miúdos que apenas tiveram sorte no mundo da musica” que mostrou o ano passado.
Destaque para The View From The Afternoon, que abriu o concerto de forma explosiva, D Is For Dangerous, que jogou muito bem com as paragens e os silêncios, Do Me A Favour, uma das melhores músicas novas tocadas no concerto, e When The Sun Goes Down e A Certain Romance, músicas da praxe, entoadas bem alto pelos fãs e que cada vez mais se afirmam como obrigatórias nos concertos da banda.
A setlist não podia ter sido melhor: 20 musicas tocadas a um ritmo alucinante, muitas vezes sem paragens entre elas. Estes “rapazes” revelaram-se uma banda consolidada no indie rock britânico que, embora não tenha um estilo muito versátil, explora muito bem o tipo de música que toca. Superaram as expectativas e estão aqui para ficar.
Setlist:
The View From The Afternoon
Brianstorm
Still Take You Home
Dancing Shoes
From The Ritz To The Rubble
Teddy Picker
D Is For Dangerous
This House Is A Circus
Fake Tales of San Francisco
Balaclava
Old Yellow Bricks
You Probably Couldn't See for the Lights But You Were Staring Straight at Me
I Bet You Look Good on the Dancefloor
If You Were There, Beware
Fluorescent Adolescent
Mardy Bum
Do Me A Favour
Leave Before The Lights Come On
When The Sun Goes Down
A Certain Romance