segunda-feira, junho 11, 2007

Alive 07 - dia 10

Como vos disse, fui ao último dia do Alive 07. Pode parecer estranho, tendo em conta o tipo de música que eu tenho «reportado» neste espaço, ter escolhido, precisamente, o dia mais Hip Hop, menos Rock, mais seja o que for... Bem, quanto a isso, tenho várias respostas: 1º Existia, efectivamente, um palco secundário com um cartaz muito bom e bastante sedutor; 2º Quem vos diz que eu não gosto de Hip Hop? Esse assunto fica para outros posts, mas não rejeitem essa hipótese.


Com efeito, eu fui para ver uma das melhores bandas de Rock que tive e tenho o prazer de conhecer. The (International) Noise Conspiracy é uma banda com raízes na cena Punk/Hardcore, que constrói a sua música em torno de um ideal revolucionário e que, como pessoas, vivem de acordo - o mais possível, claro - com o que defendem nas suas músicas. Obviamente que, devido à consciência que têm para poder sustentar as sua posições contestatárias, têm letras muito boas e pertinentes. Quanto à sua música, é, como eles descreveram há uns anos, uma mistura entre Blues, Punk e Soul, ou seja, Rock puro com influências claras dos anos 60 e 50, dos primórdios das guitarradas e da música dançável com pulos e corridas. Como banda, tiveram diferentes fases, fáceis de distinguir pela composição de cada álbum, mas que ostentam sempre uma sede de mudança, sempre através da música, mas com mensagens diferentes - desde as armas até ao amor. É um projecto que vale a pena conhecer, não só porque nos enriquece culturalmente e nos dá uma visão diferente das políticas e posições que nos rodeiam e que, muito provavelmente, desconhecemos, mas porque é um prazer ouvir música assim, bem feita, alegre, cantável, dançável, enérgica...
Quanto a concertos... Bem, viu-os na sua estreia em Portugal, há dois anos, no Sudoeste. Foi uma autêntica bomba. Foi mítico. Um concerto inacreditável, sem qualquer dúvida. Gente que deixou o palco principal para perceber o que é que estava a acontecer no pequenino palco secundário, fotógrafos a correr para captar o fenómeno, um encore tão brutal como todo o concerto... E, pelo que sei, concertos assim, deles, são uma constante. Vê-se que gostam do que fazem, essencialmente, e conseguem transmitir e partilhar isso com o público, muito graças à sua humildade, que os torna tão acessíveis.



The Vicious Five


foi o primeiro concerto que apanhei no palco secundário, visto que Nigga Poison me pareceu bastante desinteressante, mas admito que talvez seja um preconceito parvo que tenho, já que nem dei muita atenção à música, mas não importa.
Se, segundo me lembro, afirmei que o concerto na Queima das Fitas de Coimbra foi bom, muito bom; agora vou enfatizar isso: o concerto no Alive 07 foi estupendo. The Vicious Five estavam muito mais enérgicos e sedentos de música que na Queima e protagonizaram momentos de dança, saltos e Rock muito bons. A setlist foi semelhante ao outro concerto que vi, mas aqui resultou bem melhor, como já disse. Quim, o senhor vocalista, voltou a estar à frente de afirmações pertinentes, como foi comparar-se a Matisyahu, que estava a actuar no palco principal nesse mesmo momento, e fazendo uma pequena crítica com uma brincadeira de anti-semitismo.
A banda está cada vez mais à vontade em palco, o que também deixa o público mais confortável com a sua música, ajudando imenso ao espectáculo, e as músicas novas que tocaram resultam muito bem ao vivo. Estão com um concerto muito bom, mesmo.



Wraygunn


Esta banda, ainda que muito interessante, não proporciona os melhores concertos que já vi. Exceptuando durante algumas músicas, são concertos um pouco estáticos e que não puxam muito pelo público, ou pelo menos por mim. Claro que durante a "Drunk or Stone", ou "Keep On Prayin'" a coisa muda de figura, visto que são músicas mais mexidas e mais conhecidas e que levam a um contágio diferente, maior.
Vou remodelar, então, a minha afirmação: o concerto foi bom e interessante, mas não era, definitivamente, no mesmo esquema das restantes bandas que iriam lá actuar, que tinham ambientes mais enérgicos e dançáveis, ao contrário do que Wraygunn me parece ser, criando fundos muito bons.
Destaco, obviamente, a performance de Paulo Furtado, que demonstra os muitos anos que tem de palco de forma clara, ostentando uma posição insolente de rockeiro da velha escola Punk. As duas senhoras que o acompanham não se mexem muito - não são, definitivamente, nenhumas Karen O -, apesar de terem um presença muito curiosa e interessante, mas ainda se destacam do resto da banda, que fica completa submersa pela existência do nome do Paulo, que é a cara do projecto.



The (International) Noise Conspiracy


Foi um grande concerto. Infelizmente, não me parece ter sido o concerto da noite. Muita gente que estava no recinto, estava para ver a estreia dos grandes Beastie Boys, que, pelo pouco que vi, deram um grande grande concerto, ao seu nível, claro. E muita gente não foi ver os T(I)NC, tanto pelo preço dos bilhetes, como pelo próprio dia, o que não facilitou em nada o trabalho destes senhores. Mas nem isso se mostrou ser um verdadeiro problema para os suecos, que se apresentavam pela segunda vez em Portugal. O concerto foi extremamente enérgico e envolvente. A banda estava com uma presença estupidamente contagiante e à primeira música já todos dançavam, na plateia e no palco. Percorreram algumas das suas músicas mais badaladas, desde "Smash It Up", do Survival Sickness, passando pela "Capitalism Stole My Virginity", do New Morning, Changing Weather, mas centraram-se mais no último álbum, Armed Love, do qual tocaram "Let's Make History", "Comunist Moon" e, o single, claro, "Black Mask", entre outros; também tocaram bastantes músicas inéditas, que vão estar inseridas no novo álbum, a ser lançado mais adiante, ainda este ano.


Não tocaram durante muito tempo, mas tocaram tempo suficiente para toda a gente dançar e cantar a revolução durante essa hora de concerto festivaleiro. Fizeram um pequeno encore, de duas músicas, deixando a promessa de um regresso a Portugal, que será muito aguardado.
Claro que os discursos mais políticos não foram postos de parte pelo vocalista, Dennis Lyxzén, mas foram doseados na medida do público, bastante reduzido, que marcou presença no concerto. Falou, como não podia deixar de ser, das eleições que ocorreram há poucos meses na Suécia, mostrando o seu descontentamento para com o governo que ganhou, associando esse descontentamento a "Comunist Moon", inteligentemente; e referiu, ainda, a sua estadia nos EUA e a música cristã feita em doses industriais por esses lados, explicando, assim, o porquê de uma música a falar do diabo.


Destaco, também, o momento em que Dennis abandona o palco para vir passear pelo público, demonstrando a abertura e o pó ao estatuto de estrelas que toda a banda tem - mesmo que esse estatuto não seja aplicável em Portugal, na Suécia são uma banda muito conhecida e o Dennis é mesmo considerado o homem mais sexy do país. Trocou algumas palavras rápidas com o público, enquanto pôde, que rapidamente foi arrebatado para um stage-dive, e outro, e outro... o concerto iria continuar normalmente, como se aqueles passeios fossem a coisa mais natural do mundo.
Foi um concerto incrível, novamente, mas ainda distante do mítico de há dois anos. Mas, com a promessa de um regresso, estou certo de que aquele concerto não foi uma situação sem exemplo.




O resto do festival

Vi partes de Da Weasel, que me pareceu repetitivo (nunca consegui gostar de nenhum concerto deles), assisti ao final do concerto de Beastie Boys, que estava a parecer muito bom e ainda acompanhei um pouco de Buraka Som Sistema, um projecto curioso e interessante - confesso que não gosto e não consigo ouvir (e não, não é um paradoxo) -, que se estava a mostrar um fenómeno, com imensa gente a ver, talvez pelos concertos já terem acabado, mas havia, ainda durante Beastie Boys, bastante gente a aguardar a sua actuação.
O dia pareceu-me um tanto desequilibrado. Bandas como os Beastie Boys e T(I)NC (que tocaram numa hora ingrata, precisamente ao mesmo tempo) serem colocados ao pé de artistas que não têm concertos ao mesmo nível, sequer, como me parece acontecer com Sam The Kid e Da Weasel. Claro que é sempre um bom "aquecimento", e a temática estava bem distribuída no palco principal, não tão bem no palco secundário (talvez até estivesse, tendo em conta que era uma forma de não desmotivar quem comprou os bilhetes para os outros dias, que gosta de música mais Rock), mas não me agradou, que não me senti sequer tentado para ver as bandas que abriram para Beastie Boys. Ainda assim, acho possível e plausível fazer um balanço positivo do dia.

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