Ontem assisti a uma conferência sobre a Auto-Regulação nos órgãos de comunicação social, no Centro Cultural de Belém. Gente ilustre, tão ilustre que vinha um do estrangeiro. Os outros eram de Lisboa, que não há dinheiro para tudo. Foi uma discussão interessante sobre o papel dos Media e da forma que este é desempenhado, que quase podemos remeter para uma discussão da actual ditadura que vivemos e que eles suportam. Mas, dos pontos abordados em relação à famosa Auto-Regulação (um tema que já há 10 anos que corre a comunicação social portuguesa sem que nada se altere realmente), um dos que me chamou a atenção foi, naturalmente, em relação à lei da música portuguesa na rádio.
José Fragoso, director da TSF, abordou este assunto em relação ao tema da conferência de uma forma extremamente interessante. Assim referiu que "os mecanismos de Auto-Regulação têm de ser impostos às empresas de comunicação social por entidades exteriores", pelo que só aquando da aprovação desta lei é que a música portuguesa assumiu algum protagonismo, ainda que pouco, nas rádios.
Esta questão leva-me a erguer outros problemas: não terá a mudança e a adaptação que a música portuguesa está a sofrer em relação aos novos estilos musicais alguma coisa a ver com esta "repulsa" das rádios? em que medida a qualidade afecta estas escolhas das rádios? não será este um problema originado pelo assumir do papel de divulgadora pela parte da Internet?
Quanto ao primeiro ponto, parece-me clara a possível resposta. O aparecimento cada vez mais constante de bandas destes novos estilos, mais experimentais, acaba por resultar neste afastamento da rádio da música portuguesa. Vejamos que não só as músicas se estão a tornar mais longas, o que dificulta uma ingressão no sistema da estereofonia, como cada vez mais experimentais, que não facilita a audição a qualquer pessoa menos preparada. Há, claro, exemplos mais fáceis de absorver e que fogem a esta regra, mesmo dentro do experimentalismo, como é o caso mais óbvio dos The Guys From The Caravan.
A qualidade é algo relativo, claro. Trata-se tudo quanto à facilidade de audição, na realidade. A simplificação da música, a partir dos anos 80, tem conduzido a um dificuldade generalizada em se absorver música mais complexa por uma grande maioria, parece-me. Vejamos os anos 90, bastante próximos de nós: os tops de vendas estavam recheados de Rage Against The Machine, Blur e Nirvana. Actualmente, esses lugares pertencem ao Kanye West e ao 50 Cent, que fazem música com samplers e batidas. Este parece-me ser um sinal dos tempos. Vou trazer um bocado ainda maior de opinião para este texto, contando uma situação que ocorreu aquando da minha fase mais "Linda Martini": fui com umas amigas que estavam claramente equivocadas em relação ao que as esperava num concerto destes meninos de Queluz. No final, elas saíram de lá desesperadas a queixar-se da barulheira que foi o concerto, de música muito pesada. Repare-se: estou a falar de Linda Martini, banda que qualquer lamechas ouve e coloca as letras reduzidas no nick do messenger (com todo o respeito pela banda e pelos lamechas). E mais exemplos se poderiam tecer aqui, a fim de sustentar esta opinião.
A terceira questão que me surgiu parece-me bastante mais pertinente que as restantes simplesmente por uma situação: também envolve outra situação referida na conferência: a entidade abstracta mais conhecida por "Mercado". Ora, o Mercado foi mencionado após uma participação muito crítica e pertinente de um membro da audiência, que referiu que desde há 10 anos que o discurso nos media portugueses é o mesmo e que de Auto-Regulação só se ouve falar, mantendo-se esta uma solução utópica para toda a gente. Após ter sido interrompido uma boa quantidade de vezes, este senhor obteve como resposta "o Mercado auto-regula-se", mudando-se assim a génese de todo um discurso que fala da Regulação pelas próprias empresas competentes. Nesta questão, o mercado exige algo às rádios: tudo menos a novidade. Esta novidade implica a necessidade de reformulação da música, numa época em que se acredita no fim da história, partindo do princípio de que tudo está inventado, mesmo nas artes. O público acaba por não estar receptivo a uma coisa que não se apresenta como hipótese nos mecanismos das massas: uma alternativa. Isto é uma consequência da dita globalização, em que tudo se torna um mero produto comercial, mesma a arte acaba mercantilizada. A solução a esta questão, problema na minha opinião, tem sido a Internet, que apresenta a divulgação de forma gratuita, assim como a rádio o fazia há uns 20 anos atrás. O problema da música nacional é um claro fruto da desmobilização das estações de rádio dos papéis de divulgadoras.
Hoje a divulgação é feita a par com a publicidade, pois tudo envolve dinheiro; a Internet cresce enquanto alternativa.
José Fragoso, director da TSF, abordou este assunto em relação ao tema da conferência de uma forma extremamente interessante. Assim referiu que "os mecanismos de Auto-Regulação têm de ser impostos às empresas de comunicação social por entidades exteriores", pelo que só aquando da aprovação desta lei é que a música portuguesa assumiu algum protagonismo, ainda que pouco, nas rádios.
Esta questão leva-me a erguer outros problemas: não terá a mudança e a adaptação que a música portuguesa está a sofrer em relação aos novos estilos musicais alguma coisa a ver com esta "repulsa" das rádios? em que medida a qualidade afecta estas escolhas das rádios? não será este um problema originado pelo assumir do papel de divulgadora pela parte da Internet?
Quanto ao primeiro ponto, parece-me clara a possível resposta. O aparecimento cada vez mais constante de bandas destes novos estilos, mais experimentais, acaba por resultar neste afastamento da rádio da música portuguesa. Vejamos que não só as músicas se estão a tornar mais longas, o que dificulta uma ingressão no sistema da estereofonia, como cada vez mais experimentais, que não facilita a audição a qualquer pessoa menos preparada. Há, claro, exemplos mais fáceis de absorver e que fogem a esta regra, mesmo dentro do experimentalismo, como é o caso mais óbvio dos The Guys From The Caravan.
A qualidade é algo relativo, claro. Trata-se tudo quanto à facilidade de audição, na realidade. A simplificação da música, a partir dos anos 80, tem conduzido a um dificuldade generalizada em se absorver música mais complexa por uma grande maioria, parece-me. Vejamos os anos 90, bastante próximos de nós: os tops de vendas estavam recheados de Rage Against The Machine, Blur e Nirvana. Actualmente, esses lugares pertencem ao Kanye West e ao 50 Cent, que fazem música com samplers e batidas. Este parece-me ser um sinal dos tempos. Vou trazer um bocado ainda maior de opinião para este texto, contando uma situação que ocorreu aquando da minha fase mais "Linda Martini": fui com umas amigas que estavam claramente equivocadas em relação ao que as esperava num concerto destes meninos de Queluz. No final, elas saíram de lá desesperadas a queixar-se da barulheira que foi o concerto, de música muito pesada. Repare-se: estou a falar de Linda Martini, banda que qualquer lamechas ouve e coloca as letras reduzidas no nick do messenger (com todo o respeito pela banda e pelos lamechas). E mais exemplos se poderiam tecer aqui, a fim de sustentar esta opinião.
A terceira questão que me surgiu parece-me bastante mais pertinente que as restantes simplesmente por uma situação: também envolve outra situação referida na conferência: a entidade abstracta mais conhecida por "Mercado". Ora, o Mercado foi mencionado após uma participação muito crítica e pertinente de um membro da audiência, que referiu que desde há 10 anos que o discurso nos media portugueses é o mesmo e que de Auto-Regulação só se ouve falar, mantendo-se esta uma solução utópica para toda a gente. Após ter sido interrompido uma boa quantidade de vezes, este senhor obteve como resposta "o Mercado auto-regula-se", mudando-se assim a génese de todo um discurso que fala da Regulação pelas próprias empresas competentes. Nesta questão, o mercado exige algo às rádios: tudo menos a novidade. Esta novidade implica a necessidade de reformulação da música, numa época em que se acredita no fim da história, partindo do princípio de que tudo está inventado, mesmo nas artes. O público acaba por não estar receptivo a uma coisa que não se apresenta como hipótese nos mecanismos das massas: uma alternativa. Isto é uma consequência da dita globalização, em que tudo se torna um mero produto comercial, mesma a arte acaba mercantilizada. A solução a esta questão, problema na minha opinião, tem sido a Internet, que apresenta a divulgação de forma gratuita, assim como a rádio o fazia há uns 20 anos atrás. O problema da música nacional é um claro fruto da desmobilização das estações de rádio dos papéis de divulgadoras.
Hoje a divulgação é feita a par com a publicidade, pois tudo envolve dinheiro; a Internet cresce enquanto alternativa.
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