
No passado fim de semana os britânicos
Massive Attack apresentaram-se no Campo Pequeno para finalizar a
tournée com 2 concertos consecutivos em Portugal. Eu estive lá no primeiro desses dias e posso afirmar que foi qualquer coisa de espantoso, superando de longe o concerto dado no
Festival Super Bock Surf Fest 08.

Para abrir, os
Massive Attack escolheram
Martina Topley-Bird. A artista participou no novo álbum dos ingleses e estava em
tour com eles, pelo que aproveitou para fazer as primeiras partes de todos os concertos, tendo a possibilidade de mostrar o seu trabalho próprio. Acompanhada por um ninja na bateria, a britânica, que emprestara a voz a
Tricky no seu primeiro álbum, deu um concerto curto, expondo algum do seu reportório triphop/dub/soul. Transmitindo sempre uma aura de tranquilidade e satisfação, Martina mostrou os seus dotes vocais a par de um xilofone, uma bateria, a ocasional guitarra e outros mil instrumentos - a complementaridade instrumental ajudou a tapar os silêncios e tudo junto criou uma sonoridade própria. Ainda assim,
Martina Topley-Bird resultará muito melhor em nome próprio, num ambiente mais familiar e como a música pede, mais íntimo.
Com um Campo Pequeno esgotado, esperava-se uma ligeira apresentação do álbum que está para vir -
Heligoland - até porque o
Splitting The Atom EP, já lançado, também o é. O último álbum lançado tinha sido
100th Window, lançado em 2003. No entanto, a banda manteve-se activa no que diz respeito a concertos, pelo que a máquina se manteve sempre muito bem oleada.

A parte inicial confirmou as expectativas: material novo através de
Hartcliff Star,
Babel,
16 Seeter e
Bulletproof Love.
Robert Del Naja deu logo a conhecer duas das estrelas da noite:
Martina Topley-Bird, substituindo
Stephanie Dousen, singer/songwriter que actuou com a banda em 2008, e
Horace Andy, o eterno clássico colaborador da banda.
A partir daqui o concerto tomou um ritmo frenético, acompanhado sempre pelo placar de LEDs por trás da banda exibindo factos, frases e mensagens polémicas. Um concerto de
Massive Attack vem sempre carregado de intervenção política e humanitária, ainda que silenciosa mas complementada pela música envolvente. Desta vez as mensagens de luz estavam na nossa língua, algo que eles alteraram ao longo da
tour consoante o país onde tocavam.
Risingson marcou o celebrado regresso a
Mezzanine pela mão dos mestres
Robert Del Naja e
Grant Marshall.
Teardrop pela voz de
Martina Topley-Bird foi acompanhada por arranjos mínimos e suaves, ficando a voz no primeiro plano (ainda mais!) e o silêncio que se fez sentir no Campo Pequeno tornou o momento mágico.
Future Proof ganhou uma nova dimensão ao vivo, nunca tinha ouvido a música de uma forma tão enérgica e intensa. Quando
Horace Andy entrou em palco e se ouviram os primeiros acordes de
Angel iniciou-se mais um dos momentos da noite.
Inertia Creeps voltou a juntar
Del Naja e
Marshall em mais um momento "mezzaninesco" mas desta vez houve, na minha opinião uma abordagem visual por parte da banda que não foi muito bem conseguida. Sou totalmente a favor da complementação do concerto com adereços visuais, e neste caso acho que é muito importante. No entanto frases como "Grande golo coloca selecção nacional no Mundial" e "Simão Sabrosa deseja acabar a carreira no Benfica" levaram a aplausos do público a meio de uma música que estava a ser tão, mas tão boa. Mal aqui os britânicos, embora eu ache que não era mal intencionado.

O primeiro
encore serviu para voltar de novo a
Blue Lines com o clássico
Unfinished Sympathy, protagonizado pela enorme capacidade vocal de
Deborah Miller. Seguiu-se a incendiária
Marakesh, faixa nova que muita tinta está a fazer correr no no tubo (ver
aqui) e que deixou o Campo Pequeno perfeitamente perplexo:
Del Naja cantou o pouco que tinha de cantar e depois deixou que a fluidez e progressão da música tomassem conta da enorme sala e dele também. Acho que o britânico deve ter sido das pessoas que mais vibrou e dançou (sempre de costas para o público) ao som daquela autêntica bomba.

Houve ainda tempo para um terceiro
encore (foi só mesmo um brinde, porque depois de
Marakesh eu estava mais que satisfeito) limitado a
Karmacoma, que finalizou de uma maneira muito groovy e dançável uma excelente noite.
Foi, sem dúvida, dos melhores concertos deste ano, e vem mostrar que não é o facto de os
Massive Attack não fazerem um álbum há 7 anos que os torna ferrugentos: pelo contrário - compensam ao vivo e de que maneira!
Setlist:Bulletproof LoveHartcliffe StarBabel16 SeeterRisingsonRed LightFuture ProofTeardropPsycheMezzanineAngelSafe From HarmInertia CreepsSplitting The AtomUnfinished SympathyMarakeshKarmacoma