Após anos e anos a passar ao lado do nosso país, os Nine Inch Nails finalmente tomaram a decisão acertada de vir tocar uns acordes em Portugal, e assim, apresentaram-se em Lisboa nos passados dias 10, 11 e 12 de Fevereiro no Coliseu dos Recreios para tocar os três primeiros concertos da tour mundial de 2007. Trent Reznor apresentava-se assim pela primeira vez no nosso país, para o deleite dos fãs que finalmente punham fim a um jejum que lhes parecia eterno. Sábado, dia 10, as duas escadarias que davam entrada para o recinto do Coliseu mostravam o início das filas cheias de gente vestida de negro, pronta para a estreia absoluta dos NIN – não sobrara um único bilhete, era lotação esgotada.
Para os primeiros concertos do tour, Reznor escolheu uma banda de Filadélfia para o acompanhar: os The PoPo. A curiosidade dos espectadores variava consideravelmente face a estes americanos. Uns queriam ver os The PoPo, já que a informação disponível sobre a banda era escassa – os curiosos, portanto. No extremo oposto encontravam-se os fãs mais acérrimos de NIN, que desesperavam só de pensar que ainda iam ter de aturar uma banda desconhecida antes dos senhores do rock industrial pisarem o palco. Mal sabiam estes o prazer que estava a ser adiado…
Apesar do público um pouco desinteressado, os The PoPo conseguiram captar a atenção do Coliseu, comunicando de forma pragmática e simples com o público, obtendo a bênção de muitos espectadores através de múltiplos agradecimentos e elogios à grande banda que iria tocar a seguir. Apenas com um álbum recentemente editado, pouco divulgado e pouco disponível, deram-se a conhecer com o seu estilo alternativo e indie, sendo os pontos mais altos do concerto Apocalypse Blaze, London Falling e Funtimes On The Frontline. Não creio que venham a ser uma banda com grande projecção mundial, mas decerto que têm presença em palco e não será de todo desagradável voltar a vê-los por terras lusas.
Após a despedida dos The PoPo, a ânsia aumentava no Coliseu, e a ocasião não era para menos. Seguiram-se preparações de luzes e testes de som (guitarras, bateria, etc.) e enquanto alguns membros da banda passeavam pelo palco, o público perscrutava a escuridão à procura de Trent Reznor. O ponteiro do relógio marcava agora 22 horas e todos contavam com a pontualidade dos NIN. O ressoar dos tambores de Pilgrimage anunciou o início daquela que viria a ser uma noite memorável. Surgindo de rompante da escuridão, Trent Reznor tomou o microfone e interrompeu a intro para dar início a Mr. Self Destruct, que pôs a plateia em alvoroço imediato: foi uma questão de segundos até que se formassem vários mosh pits e o Coliseu albergasse uma profusão de braços e corpos imparáveis ao som desta abertura verdadeiramente explosiva.
Três músicas depois, deu-se o susto que acabou por se transformar num dos melhores momentos da noite. Com as luzes desligadas, houve uma pausa mais prolongada entre músicas, o que não tinha acontecido até aí. O vocalista rapidamente explicou “The usual story… fire alarm turns off the fucking power, whatever”, mas rapidamente apagou a preocupação momentânea dos inúmeros rostos que nele estavam fixos: “We don’t feel like fuckin’ around, let’s turn the house lights on and just keep playin’, fuck it! Just pretend we've got kick ass lights”, deixando o Coliseu em êxtase. Os papéis inverteram-se: a banda imergiu na escuridão e a plateia iluminou-se. March Of The Pigs começou, uma alucinante bomba que vinha da escuridão para a luz, onde se deu uma libertação de energia tremenda após o grito de Reznor “All you pigs out there, march!”.
O concerto decorreu todo ele a um ritmo estonteante, intercalando da melhor forma a agressividade com a melodia. Pode-se até dizer que foi em jeito de best of, intenso, que os NIN se estrearam em solo português, devido ao desfile de singles que foi feito ao longo do concerto (ver setlist), o que foi um verdadeiro brinde para fãs que nunca tinham tido oportunidade de ver a banda ao vivo no nosso país. Reznor resolveu também presentear os fãs portugueses com uma música que inédita em concertos (Last) e uma pertencente à banda sonora do filme Natural Born Killers (Burn).
Pretty Hate Machine, Broken, The Downward Spiral, The Fragile e With Teeth – todos eles foram incluídos no concerto de sábado. De salientar foram Something I Can Never Have, revelando a perfeição da voz de Trent Reznor ao vivo, Closer, com Reznor junto à plateia, Wish, causa de alta turbulência na plateia, The Hand That Feeds, de With Teeth, Hurt, cantada em ovação por todas as almas presentes no coliseu, e Head Like A Hole, o primeiro êxito da banda, levando-nos de volta a 1989 e finalizando um dos melhores concertos do ano.
Quanto a todo o aparato cénico não houve nada a apontar, apenas elogios a fazer: os holofotes fixos em Reznor e nos restantes membros da banda, os constantes flashes aquando das músicas mais violentas e toda a iluminação do background foram adereços muito bem utilizados. Rebentando com as guitarras, os NIN deixaram o palco, mas os fãs não desistiram, batendo o pé como se não houvesse amanhã… mas o encore não veio, com muita pena minha e do André. Após quase 20 anos ignorando os portugueses, a estreia dos NIN em Portugal não poderia ter sido melhor. Os fãs agradeceram e muitos foram aqueles que saíram do Coliseu com vontade de voltar no dia seguinte para mais uma dose destes ícones do rock industrial.
Setlist:
0. Pilgrimage (intro)
1. Mr. Self Destruct
2. Last
3. Terrible Lie
4. March of Pigs
5. Something I Can Never Have
6. The Line Begins To Blur
7. Closer
8. Burn
9. Wish
10. Help Me I Am In Hell
11. Eraser
12. La Mer/Into the Void
13. No, You Don't
14. Only
15. You Know What You Are?
16. Hurt
17. The Hand That Feeds
18. Head Like A Hole
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