Começou um ano novo, a nostalgia de um ano que passou faz-nos pensar no bom e no mau que se viveu e, neste caso, ouviu. Eu não gosto muito deste tipo de discurso, mas como é inevitável em todo o lado, eu não vou fugir à "regra" e cedo.
A banda portuguesa com melhor trabalho, gosto de acreditar que foram os Linda Martini. Olhos de Mongól está digno de respeito, no mínimo. Um álbum muito bem trabalhado, composto e interpretado. Estão realmente de parabéns. Mas os Moonspell não lhes ficaram nada atrás. Memorial está muito bem conseguido, talvez mais primitivo (na escala da evolução da banda), mas nota-se toda a maturidade que adquiriram ao longo dos anos.
"Internacionalmente" (um conceito que me desagrada muito, é tudo música), tenho imenso a destacar e não consigo, sequer, declarar um melhor que o outro, pois, no fundo, movem-se todos num meio complexo, a música, que compreende muitos outros meios...
Primeiramente, The Mars Volta com Amputechture. O regresso dos actuais senhores do progressivo mostra muito. Especulando, posso dizer que já deram tudo no primeiro e segundo álbuns, tendo em conta que o primeiro é algo novo no Prog-Rock e o segundo já mostra algo de familiar, este último já reflecte Robert Fripp, King Crimson e Yes muito claramente. Mas a originalidade não tem afectado em nada a genialidade da sua sonoridade, que tem vindo a evoluir de forma muito vistosa: está muito mais explorada, muito mais complexa, sempre muito cativante... A realidade é que Amputechture só demonstrou que a banda ainda tem muito para a dar. Apesar de ser um álbum que custa a entrar e a ser declarado como obra-prima, assim que entramos no esquema, percebemos que muito está para vir. As reacções ao mais recente trabalho dos TMV tem sido de estranheza, o que me leva a crer que o próximo album vai exceder expectativas. Mas quero deixar claro que The Mars Volta é um projecto que nunca pára de me surpreender, quanto mais ouço mais impressionado fico. (tenho é imensa pena que John Theodore, esse grande baterista, tenha saído da banda... fico na esperança que encontrem um tão bom ou que se aguente à bronca com o trabalho que John deixou, ou que ele acabe por voltar.) Espero poder confirmar isto em concerto...
Já que ainda estamos no progressivo, abordo já Mastodon, que voltaram à carga com Blood Mountain. Outro álbum excelente. Técnicamente, os americanos são brutais, mas mantêm uma postura que não fatiga, e dentro de tanta excelência musical, Blood Mountain mostra-se muito fácil de ouvir (para quem estômago para o Metal) e, também, se apresenta como um dos grandes trabalhos do ano. Algo que não pude confirmar da melhor forma em concerto...
Quem fala de Metal, acaba por fugir para o Post-Doom, e aí, os suecos Cult Of Luna apresentam-se muito bem com Somewhere Along The HighWay. A característca que CoL têm apresentado como natural no seu trabalho é o decréscimo da presença do vocalista em cada álbum - que chegou mesmo, por problemas pessoais, a não acompanhar a banda durante uma tour. O vocalista desempenha, ainda assim, um papel importantíssimo no trabalho, o que demonstra uma excelência de composição dentro da simplicidade, da harmonia, da depressão e do peso, que não se reflectem só nas músicas no seu todo, mas no trabalho individual de cada membro, extremamente bem aproveitado por cada um. Ainda assim, destaco Johannes Pearson, o guitarrista/compositor, pelo que, óbviamente, realizou, e os trabalhos de bateria, mesmo não sendo os mais complexos, proporcionam a ambiência perfeita na música, e isso é, indubitávelmente, o mais importante. Aguardo um regresso a Portugal...
Dentro do género, Callisto apresentaram Noir, um trabalho "oscilantemente" bem concretizado. Está, supostamente, menos pesado, mas não tarda que me apercebi que é uma conclusão errada. O peso mantém-se, mas na melodia própriamente dita, antes de antigir o peso musical. Desde as vocalizações, às próprias melodias, passando pelo ritmo característico ao post-doom, a banda conseguiu fazer algo com personalidade, o que é muito bom. O post-doom, é, também, um estilo género muito jovem e, por isso, ainda muito está por descobrir e conseguir, a prova disse é este álbum.
Continuando com o Post, Gregor Samsa foi uma das descobertas que mais prazer me proporcionou. É a primeira vez que falo da banda, portanto não me vou alongar. O seu Debut, 55:12, está excelente, post-rock com influências claras de Sigur Rós e de Mogwai, mas que consegue fugir ao estilo e quebrar um pouco a monotonia com a introdução de uma voz feminina como uma constante, algo que ajuda imenso às ambiências e que lhe dá um quelque chose de novidade, ou de algo que eu não consigo tão bem descrever.
Isis e Red Sparowes... não ouvi muito os últimos álbuns, portanto vou abster a minha opinião. Talvez mais tarde a dê.
O regresso de Placebo! Esse foi um regresso muito bem conseguido. Sinceramente nem me surpreendeu ou deixou de o fazer. Um híbrido emocional, como gosto de lhe chamar. A qualidade de Meds era uma situação da qual não esperava menos. Mas, mais uma vez, o trio britânico quebrou com a linha que delineou no trabalho anterior (Sleeping With Ghosts), mas sem nunca quebrar ou deixar aquilo que os identifica como OS Placebo, como têm feito até aqui. Grande CD, o Meds. O concerto foi brutal, cheio de feeling. Há muita gente que tem a aprender com estes meninos...
Quanto ao regresso de Muse... este tem sido envolvido por muita controvérsia. Não tenho muito a dizer. É um trabalho de qualidade, mas que quebra com o que têm feito até então, mais comercial. O mais correcto é nem comparar com os anteriores, porque este, como já disse, é diferente. Não é, portanto, uma ruptura ou uma quebra. É Blackholes and Revelations.
Já falei do que mais me marcou, ou talvez do que vi que mais marcou. Não insisto mais no ano que passou. A época de concertos deve estar a recomeçar!