O Punk, aquele movimento de rebeldia e descontentamento iniciado nos finais dos anos 70. Alguns dizem que a sua explosão foi em 1977, o que faz deste ano um ano marcante para a juventude de uns e para a ingenuidade de outros, quer de agora ou de outrora, e que o leva a aparecer em muitas paredes da urbanidade mais próxima de cada um – quem é que ainda não viu o mítico 77 pintado nas paredes de uma cidade? O Punk, musicalmente – que é o que realmente nos interessa – começou com bandas que de musica nada percebiam e que, em virtude deste quase “handicap”, compunham as musicas mais repetitivas e mais simples que se poderia imaginar, acompanhadas com uma batida forte e rápida. Desta característica, os exemplos mais conhecidos são os Ramones, que supostamente só sabiam três acordes, e os Sex Pistols, que roubaram instrumentos e uma carrinha e se aventuraram pela estrada. Mas o Punk é mais do que a simplicidade musical, pois a verdadeira essência estava nas suas letras (cujo os melhores exemplos não são certamente os Ramones e os Sex Pistols, visto serem a vertente comercial do movimento, na altura) e na sua atitude, que demonstravam sobriedade politica, puro descontentamento e sede de mudança e um espírito jovem, ou simplesmente mostravam a despreocupação para com os outros e para com os críticos juntamente com o mesmo espírito jovem. Claro que, como acontece com qualquer estilo musical com uma grande adesão, o Punk acabou por evoluir dando origem a vários estilos musicais (todos dentro do género Punk, obviamente).
Actualmente, o Punk é visto como uma moda para as crianças, maioritariamente, que gostam de ouvir Green Day, Good Charlotte e Simple Plan que ficam longe da verdadeira essência e espírito anticomercial do movimento, apesar de ainda existir uma verdadeira atitude Punk, bem longe dessas bandas de influências Punk e espírito vendedor - algo controverso, isto, por isso lhes acho imensa piada. São poucas as bandas que mantêm a atitude de 1977, que tinham os The Clash e os The Smiths, e as que mantêm ficam-se numa onda mais underground, ou simplesmente dão o salto para algo de melhor, de musicalmente mais permissivo e abrangente, ou que lhes agrade mais, como fizeram os actuais The [International] Noise Conspiracy, The Mars Volta (cuja primeira banda em que o guitarrista/compositor, Omar Rodriguez-Lopez, e o vocalista/compositor, Cedric Bixler, tocaram foi At The Drive-in, que inicialmente era puro Punk/Hardcore), os Cult Of Luna (que começaram por ser uma banda de Hardcore chamada Eclipse), The Vicious Five, os Linda Martini (estes últimos dois são casos nacionais) ou como outrora fizeram os Refused e os At The Drive-in, cujo Hardcore foi desenvolvido e aproveitado para se criar algo de musicalmente mais complexo; para estas bandas, o Punk foi a escola. Claro que há excepções, como os Anti Flag e os Strike Anywhere, que apesar de terem evoluído para patamares mais altos em termos de mercado, continuam com a atitude Punk de descontentamento e sede de mudança.
Apesar de tudo, recuso-me a afirmar que o verdadeiro Punk está em crise, por causa das bandas pseudo-Punk. O Punk é e foi, como já disse, uma escola, e das melhores, à qual devemos muito da boa musica de hoje em dia e à qual ainda devemos prestar atenção e não ignorar. Estou certo que, do Punk, muitas mais bandas virão para surpreender.